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segunda-feira, 1 de julho de 2019

Simplicidade Caótica

O mundo está tão vasto de informações que as vezes, fica muito difícil escolher.
Antigamente nós íamos em vídeo-locadoras, e se você, caro leitor, for jovem demais, não saberá do que estou dizendo, mas digamos que era um local onde as pessoas iam para escolher um filme para levar para casa e assistir, alguns dias depois o devolvia ou o realugava se desejasse ver novamente.
Hoje em dia basta abrir a Netflix ou até mesmo procurar na internet que se encontra uma vasta, imensa opção de filmes, são tantos que às vezes chega a parecer uma verdadeira perda de tempo rever algum, uma vez que existem tantos outros.
Mas qual é a real sensação dessa escolha?
Deveria ser de prazer, alegria, realização por poder ter a liberdade de escolher o que bem quiser, no entanto, não é bem isso o que acontece, curioso não?
A verdade é que as escolhas são tantas que muitas das vezes nos sentimos impotentes por não termos tempo para vermos tudo, antigamente o dinheiro nos limitava, mas hoje o que nos limita é o tempo, ou a falta dele.
Temos mais dinheiro para comprarmos as coisas, mas não temos tanto tempo para apreciá-los verdadeiramente, precisamos correr contra o tempo, o tempo todo.
Levanta-se de manhã, escova-se os dentes, coloca a roupa afoito, sai correndo para não perder o transporte, quase engolindo e engasgando com a bolacha ou o pedaço de pão que pegou em cima do armário às pressas, mal se sentindo o gosto.
Sobe no ônibus super apertado, as pessoas se empurrando em busca de algum lugar para seguir viagem, andam apressadas, sem respirar, sem olhar umas para as outras, e então... Chegam ao serviço.
Ah o serviço, um leve suspiro, mal sentou a bunda na cadeira já começa a trabalhar alucinadamente, bater metas, resolver problemas, continuar alimentando a grande máquina de produção, não temos tempo para respirar, viramos máquinas impulsivas e alucinadas, telefones tocando, whatsapps apitando, meu Deus!
E de repente, hora do almoço!
Era para ser o melhor momento do dia, não é mesmo? Quem dera, pegue essa marmita logo, corra, se não, o micro-ondas vai ser ocupado por outro, as filas imensas, as mesas cheias, o alimento sendo engolido sem se ver direito o que se está comendo, tudo automático, tudo robótico, os robôs vão dominar o mundo, dizem os futuristas, acho que já dominaram, sugaram nossas almas e nos levaram para o mundo das multidisciplinaridades, e quando você percebe, seu almoço acabou, é preciso trabalhar, produzir, fazer o capitalismo rodar, e então, quase que sem notar, o dia vai passando, quando se da conta, já é hora de ir embora.
Finalmente um pouco de liberdade, um pouco de ar...
Poluição, trânsito, buzinas caóticas, pessoas alucinadas em voltarem para seus lares, mais gente se empurrando, mais gente cansada, quando você finalmente coloca seus pés em casa o corpo está tão exausto que você só pensa em dormir, ou no máximo ver um filme...Mas, qual filme? Precisa pensar logo, precisa ver logo, jajá tem que dormir, amanhã começa tudo de novo, busca, busca, olha, olha, nada interessa, mas ao mesmo tempo, é tudo tão interessante... Não, esse não, muito longo, esse muito agitado, esse muito parado... E assim, algo tão simples se torna tão complexo e problemático, e um simples prazer se torna em um verdadeiro caos.
Antigamente as coisas eram mais simples, antigamente ainda eramos simples humanos.

Jessica Curto

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