Como é ficar longe
De algo que se quer tanto
Por tanto tempo?
Como é mergulhar em
reminiscências e sentir perder
a aura dos tempos áureos?
É duro, meu amigo. É como
Se uma louca, traiçoeira
Tanto quanto silenciosa,
Invadisse o coração da gente
Na surdina, sem barulho.
Aos poucos, sem dar o menor aviso de intromissão,
altera a composição dos neurônios
e impõe cimento às janelas
do pensar.
O lirismo pede exílio,
A alma endurece,
O olhar simplesmente se esquece
das inúmeras possibilidades
da realidade múltipla.
Assim, no fim das contas,
só resta o prazer da carne crua,
da imagem fácil,
da palavra sem dose de
mistério.
É duro, amigo, estar e não
estar ao mesmo tempo
na realidade
e viver uma vida psicológica
de pobreza e isolamento.
Rafael Cardoso
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