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quinta-feira, 27 de junho de 2013

Uma viagem inesquecível - A Grande Aventura - Capítulo 9 - Terror na floresta

Afonso, Sancho e Nicolau andavam mata adentro tranquilamente, achavam absurdo os homens terem medo de enfrentarem qualquer problema que fosse, afinal de contas, eles não eram homens do Rei? Não deveriam nem poderiam temer nada nem ninguém. Iriam matar se preciso fosse para tomar aquelas terras em nome de Vossa Majestade.
Aquele lugar não aparentava ser nem um pouco assustador. Era repleto de árvores de diversas espécies que eles nunca sequer viram, os animais pareciam dóceis, e embora estivesse fazendo mais calor do que eles estavam acostumados, a terra parecia ser um pedaço dos céus esquecido por Deus.
Já estava para escurecer e eles nada haviam encontrado naquela região. Iriam voltar para a praia, no dia seguinte poderiam vasculhar mais o local.
Estavam andando lentamente em direção à praia, quando uma imensa coruja estranha de grandes olhos amarelos e penas negras pousou em um galho alto e grosso perto dos homens e começou assobiar estridentemente, fazendo-os se arrepiarem por completo, era aterrorizante.
Fez-se ouvir um resmungar, todos olhavam em volta buscando da onde vinha o som, quando voltaram seus olhos para a frente deram de cara com uma senhora de pele morena e enrugada, com olhos levemente puxados, brilhantes e negros. A boca se encrespava, observando-os em silêncio. Usava um manto que lhe cobria o corpo todo.
Aproximou-se de Nicolau, atenta em seus detalhes, vendo-os em completa mudez, eles seguravam suas armas com firmeza, porém mantinham-nas abaixadas.
Sua mão trêmula se ergueu lentamente e agarrou o braço de Nicolau que arregalou os olhos vendo a senhora se contorcer e o soltar abaixando a cabeça, começava a falar em um tom sombrio.
-Quem quer? Quem quer? Quem quer?
Os homens se olhavam confusos. Sancho, um homem encorpado coçou o topo da cabeça, transtornado.
-Quem quer? Quem quer? Quem quer?
Ela repetia em um tom agourento. O pio da coruja estava mais baixo e assustador, seguindo o ritmo da voz da velha.
Afonso achava ridícula aquela situação toda. A mulher aparecera do nada e estava assustando-os pelo simples fato de ter um modo de falar estranho, resolveu então tomar à frente.
-Quem quer o que? Quem é você? O que você quer?
Ele falava irritado. O rosto da mulher se ergueu encarando-o por uns instantes e então abriu um sorriso de dentes podres.
A coruja decolou da árvore para o ombro da senhora que começava a rir em um tom cruel. A ave se mantinha em completo silêncio.
Tossindo de leve, a velha  se apoiou em sua parca bengala de madeira e pôs-se a falar com uma voz gutural.
-Matinta Pereira é meu nome e venho trazer agouro para os invasores.
Esta terra não lhes pertence, o castigo virá. Vocês trouxeram o mal e o mal irá levá-los de volta donde vieram, preparem-se, o horror está à caminho e vai tomar conta deste solo.
Os homens estavam espantados com aquela mulher, sequer ouviram-na chegar e ela vinha com bobas histórias ameaçando-os, quem ela pensava que era?
Matinta Pereira voltou a tossir, a ave alçou voo piando alto novamente, distraindo-os e, quando se voltaram para a mulher ela já não se encontrava mais ali. Ao escutar pela última vez sua risada diabólica, os pelos do corpo se eriçaram completamente. O que quer que fosse aquilo, era melhor dar o fora dali.
Começaram a correr na direção de onde vieram, ouvindo berros vindos da praia que por certo deveria estar condenada.
-Esperem, esperem, vejam! Pegadas indo rumo ao mar, não podemos ir para lá homens.
Afonso falava, apontando para as pegadas no chão.
-Vamos seguir por aqui.
Sancho dizia já correndo para a direita. Risadas altas e estridentes eram ouvidas mata adentro.
-Vamos, rápido!
Nicolau corria completamente apavorado com aquela situação.
Foi então que algo muito laranja passou correndo por eles, soltando assovios por todos os lados, eram agudos e assustadores.
-Curupira não gosta de invasores na terra dele. Curupira vai enlouquecer um por um!
A voz saia de todos os cantos possíveis, fazendo com que os homens olhassem para cima, completamente confusos.
De repente Afonso caiu no chão, berrando de dor.
-Afonso, o que foi homem?
Sancho berrava, vendo o amigo tombado com uma flecha enfiada no peito, outra foi lançada em seguida e passou de raspão pelo braço de Nicolau.
-Vamos sair daqui!
Nicolau berrava abandonando os amigos e adentrando a floresta. Afonso respirava com dificuldade, o sangue vazando pelo buraco aberto.
-O que vamos fazer?
Sancho perguntava mais para si do que para Afonso. A risada ficava cada vez mais próxima, estridente e enlouquecida.
O amigo caído revirava os olhos, respirando com dificuldade.
-Vamos homem, levante, temos de sair daqui!
O gorducho camarada suava em bicas, vendo Afonso padecer. Os olhos lacrimejaram e piscaram uma última vez, sua cabeça tombou para o lado, estava morto.
Sancho engoliu em seco, ergueu-se empunhando sua espada, iria morrer enfrentando aquele monstro.
-O que você quer?
Ele berrava para o tal Curupira que o estava atacando.
-Saia das minhas terras, invasor!
Mais flechas voavam na direção do homem que começava a atirar em todos os sentidos.
Uma movimentação alaranjada passava por ele confundindo-o, a risada gritante o assustou quando viu seu amigo Nicolau cair do topo de uma árvore com uma flecha na cabeça.
-Deus me proteja!
Ele ouviu a risada atrás de si e se virou apressadamente, vendo o ser ali presente.
Era um garoto de no máximo um metro e meio, tinha pelos pelo corpo inteiro, de cor alaranjada. O cabelo era arrepiado e as pernas a partir do joelho eram viradas para trás.
Carregava em uma das mãos um cajado de madeira em outra um escudo pintado de amarelo, lembrando o sol. Um saiote cobria suas partes íntimas, seu corpo era forte e musculoso, de guerreiro.
Um sorriso arteiro estava presente em seus lábios, encarando Sancho.
-Saia da minha casa, você não é bem vindo!
Ele falava em alto e bom tom, diferente do que seria a voz de um garotinho.
Os olhos eram muito vermelhos e estavam fixos no gorducho português.
-Me dê a chance de sair daqui então!
Sancho encarava o pequeno homenzinho, era muita afronta da parte dele querer controlar toda a situação, ainda mais com o tamanho que tinha.
-Corra!
Curupira falou e voltou a desaparecer, gargalhando e deixando Sancho confuso novamente, que começou a correr alucinadamente pela floresta, tentando escapar das flechadas que o atrevido ser demoníaco lançava em sua direção.
Sentia as plantas baterem em seu rosto e espinhos lhe machucarem a pele. Estava sangrando e seu uniforme estava estraçalhado.
-SOCORRO!
Começara a berrar, atirando para cima, tentando chamar a atenção de alguém, qualquer pessoa que fosse, ao menos uma ajuda e uma chance de sair de lá com vida.
A floresta estava começando a pegar fogo, ele não sabia para onde ir.
Parou resfolegando, não conseguia conter o pavor e o medo que percorriam por seu sangue.
Fez o sinal da cruz, sabia que aquele era seu fim. Suas mãos agarraram a corrente presa no pescoço, beijando o pequeno crucifixo de ouro ali presente e em seguida foi atingido nas costas, caindo morto na mata.
A risada diabólica se espalhava pelos sete cantos, os invasores iriam pagar por terem adentrado em uma terra desconhecida.

***

Do outro lado da mata Pero Escolar se ajeitava ao lado de Antônio e Joaquim, tinham acabado de se alimentar com o cozido que Antônio trouxera, iriam relaxar um pouco, afinal que mal poderia fazer? Estavam vasculhando aquela floresta o dia inteiro, nada como um bom descanso para renovar as energias. Os olhos começavam a pesar e em poucos minutos eles estavam em sono profundo, longe de se quer imaginarem o que estava acontecendo naquela floresta.
Um ser com um grande cabelo desgrenhado e vermelho, de corpo esbelto, pele pintada igual onça, amarela com pintinhas pretas, olhos escondidos por um sombra, feita  boa parte da grande franja, deixando apenas dois pontinhos amarelos há vista que olhava fixamente para o grupo, se aproximando lentamente, andava de quatro como um animal selvagem, o nariz farejando o ar, tentando identificá-los.
Os seios delineados demonstravam ser uma mulher, pois caso contrário não seria possível tal identificação, visto que uma tanga cobria suas vergonhas.
A língua lambeu de leve os lábios de Pero Escolar, que se remexeu, ainda em sono profundo, fazendo o ser se afastar assustado.
A mão se encostou de leve na orelha de Joaquim, que incomodado deu um tapa na mesma, abrindo os olhos e se assustando com o ser que estava à sua frente, quase colado ao seu rosto, encarando-o.
Um berro desesperado foi dado por Joaquim, que se ergueu rapidamente, pegando em sua arma e atirando na direção do bicho que saiu saltando e berrando pela floresta.
-Homens levantem!
Joaquim gritava empurrando os colegas que assustados erguiam-se as pressas, se perguntando o que acontecera.
Começavam a correr na direção de onde o bicho tinha ido, a floresta estava em chamas, os troncos começavam a cair, dificultando a passagem deles.
-O que vamos fazer?
Antônio berrava, começando a sentir falta de ar, a visão estava ficando cada vez mais precária.
-Caipora só queria conhecer vocês, mas foram maus com Caipora, agora terão suas pagas.
Uma voz doce e em tom magoado saia em meio à árvores.
-Ali!
Joaquim apontou para a árvore onde o bicho estava empoleirado e atirou, mas o ser já tinha desaparecido, surgindo na árvore oposta.
-Aqui homens!
Pero atirou tentando acertar, novamente falhando, vendo a estranha mulher brotar na frente deles.
-Ai, ai, ai, eu só queria brincar, vocês são malvados, não merecem brincar com Caipora!
E ao falar isso ela saiu saltando, várias dela apareciam e desapareciam em diferentes lugares em questão de instantes, confundindo-os.
-Caipora pode ajudá-los a sair daqui se vocês forem bons com Caipora.
A voz ria maldosamente, atingindo-os pelas costas, fazendo com que se virassem, a encarando. Ela era completamente maravilhosa e atraente.
Por um segundo ela os observou calada, e então voltou a desaparecer gargalhando, os homens estavam  ficando loucos. Começaram a correr para longe do fogo, a voz de Caipora ria histericamente, eles não conseguiriam sair dali vivos.
Animais de diversas espécies começaram a aparecer e desaparecer na frente deles, emitindo ruídos apavorantes. Eles corriam alucinados, longe do fogo, e então viram uma imensa onça pintada parar na frente deles, arreganhou uma boca gigante de dentes muito afiados e rugiu alto, fazendo-os ficar petrificados de medo, e então ela saltou para cima de suas vítimas. Derrubando-as no chão e dilacerando seus corpos em questão de segundos. Aqueles não viveriam para contar história.

Jéssica Curto


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