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terça-feira, 25 de junho de 2013

Uma viagem inesquecível - A Grande Aventura - Capítulo 7 - Terra misteriosa

Depois do último horrível acontecimento com as sereias tudo se aquietou, os homens voltaram às suas rotinas e Pero, mesmo tendo sede de aventura, não sabia se seria bom para todos que seu desejo se realizasse, já que não queria prejudicar ninguém por causa de seus caprichos, muito menos colocá-los em risco, sob qualquer circunstância. Por isso, tentou evitar ao máximo incomodar o capitão exigindo tarefas, o seu dever era escrever para o Rei e assim o faria. Precisava deixar de ser egoísta.
Isso o fazia ficar trancado no quarto a maior parte do tempo, completamente sozinho.
Estava olhando pela janela para aquele infinito oceano azul que se misturava com os céus e fazia tudo ser uma coisa só, já estavam há mais de um mês no mar e nada de surgir terra alguma, ele estava triste e desapontando e foi com esse pensamento que ouviu iniciar uma grande correria no corredor, pessoas berravam animadas, será que era algo de novo afinal? Teria ele dado tal sorte novamente para ter fantasias a relatar?
Ele não tinha culpa, a curiosidade aflorava em seu sangue, era de sua natureza querer descobrir sempre mais. Saiu do quarto, vendo os homens correndo em direção ao convés. Muitos se apoiavam para observar o mar, onde algas flutuavam de um lado a outro misturadas com rabo de asno, de folhas verdes, pontudas e compridas.
Mais a frente algumas aves sobrevoavam o céu, eram fura-buxos de cara cinza, um pássaro de cor marrom escura uniforme, com a face cinza, bico e pés pretos que se alimentava de peixes, lulas e crustáceos. Esses eram os maiores indícios de que havia terra próxima e todos estavam muito impacientes com essa novidade, finalmente estavam próximos da Índia!
Pero voltou depressa para seu quarto, tinha que escrever sobre aquilo e, principalmente, arrumar suas coisas para a grande excursão que faria naquele novo mundo. Imensa tal qual era sua felicidade e nervosismo, que teve de parar e respirar com calma por diversas vezes para não borrar o papel de tinta.
Horas mais tarde os homens já se preparavam caso de fato estivessem chegando para desembarcarem. Cabral estava há horas agarrado em sua lupa, os olhos fixos no horizonte, Pero andava de um lado para o outro esfregando as mãos vez em nunca, sentindo o corpo vibrar de felicidade. — Ahá! — o capitão-mor soltou um berro involuntário, fazendo todos ao redor pararem o que faziam e o encarar.
—O que estão olhando? Voltem aos seus trabalhos!
Ele abaixava a luneta, baforando de raiva de sua própria reação.
Todos voltaram aos seus afazeres imediatamente, completamente sem graça por terem sido pegos no flagra. Pero já estava colado na lateral do comandante, queria ele mesmo ter uma luneta para poder ver sozinho.
—Capitão... O que é? O que o senhor está vendo?
O garoto olhava ávido por novidades em direção ao homem, que saltou se dando conta do rapaz ali presente o tempo todo. Encrespou os lábios, completamente irritadiço.
—Veja você mesmo... Vai se chamar Monte Pascoal e esta terra que vês em frente, será a Terra da Vera Cruz, anote isto para Vossa Majestade exatamente como estou lhe dizendo. Tome!
E enfiando de muito mau gosto o objeto nas mãos de seu escrevente, saiu do recinto, uma vez que tinha de dar ordens para as outras naus seguirem naquela direção até o mais próximo possível e depois lançarem as canoas na água com seus homens. Desta forma, Pero ficou sozinho apreciando e decorando cada minúsculo pedaço daquela vista paradisíaca a fim de relatar tudo em sua carta posteriormente. Era uma grande e maravilhosa montanha, muito alta e redonda, repleta de frondosas árvores volumosas.
Não sabia se existiriam palavras suficientes para explicar aquela magnitude toda, talvez nem o mais bonito quadro pudesse retratar com maestria aquela paisagem dos deuses.
Naquela mesma noite, todos já se encontravam prontos para transpassar o mar pela manhã e estavam com os nervos a flor da pele. Era um misto de medo e curiosidade, afinal, ninguém sabia dizer o que os esperava naquela imensidão verde.
Pero mal pregara os olhos e logo nos primeiros raios de sol já estava de pé, pronto para zarpar. Por ele, ia nadando até a areia se preciso fosse para não ter de esperar nem mais um segundo aqueles homens lerdos se arrumarem. Não fosse pelo capitão mandá-lo se acalmar e o ameaçar de tirar suas funções, ele não sossegaria.
Depois de muitas expectativas eles finalmente adentraram as canoas e Pero insistiu em ajudar a remar com os demais homens. Quando se aproximaram o suficiente da areia branca viram que a vista era ainda mais linda de perto.
Pero saltou da canoa, encharcando as calças e o sapato, correu em direção a praia como um menino bobo, gargalhando alto, não acreditava no que via.
Cabral e os demais homens olhavam para ele completamente inconformados.
—Cale-se homem, está chamando atenção, não sabemos o que esta floresta nos esconde!
Cabral vociferava o reprimindo, vendo-o se calar frustradamente.
—Prestem atenção rapazes, vamos nos dividir, fiquem atentos e a qualquer sinal de movimento suspeito, atirem e corram!
Os homens balançavam a cabeça em concordância, apanhando suas armas e engatilhando-as.
—Prontos? Afonso, Sancho e Nicolau vão pela esquerda, Antônio, Joaquim e Pero Escolar pela direita, João e o nosso empolgado escrivão Pero vão comigo pelo meio da mata e o resto fica aqui na praia de guarda. Ao sinal de qualquer problema, deem dois tiros pro alto que viremos correndo, e homens... — Ele via os rostos amedrontados de todos — Tomem cuidado.
Ao falar isso todos saíram para as suas devidas direções.
Pero estava feliz, aquela era finalmente sua chance de escrever uma aventura de verdade. Conforme eles adentravam a mata o mistério e a tensão aumentavam em torno deles, visto que movimentações suspeitas e sombras de seres estranhos e diferentes estavam começando a deixá-los assustados, principalmente a João, que era um negro escravo e forte, contudo era medroso e não parava de olhar para os lados completamente apavorado com qualquer barulho diferente.
Embora estivesse achando aquelas matas maravilhosas, cheias de plantas diversificadas e com uma coloração tão bela, Pero se mantinha hesitante, os olhos bem abertos e atentos, sua mão apertava firme o cabo da arma, seus passos eram leves, em busca de não emitir qualquer ruído no chão folhoso. Já o capitão se mostrava confiante e, com a mão em sua espada, passava cortando a mata alta, sem aparentar medo de nada.
Assim, eles adentravam em um novo mundo repleto de mistérios inimagináveis.

Jéssica Curto


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