As últimas palavras dela ainda ecoavam firmes em sua mente, embora ligeiramente trêmulas, totalmente contrárias àquela personalidade de mulher forte que ela tinha: "Cuide dele. Cuide...". E ela não teve tempo de terminar sua frase. Sua força já se desintegrara por completo, e aqueles olhos - ah, aqueles olhos, que ele tanto gostava de apreciar - já pareciam não exibir a antiga luz natural que ela mostrava toda vez que o encarava.
Ele se levantou. Estava, segundos atrás, praticamente estirado no chão, ao lado da cama baixa em que o corpo morto já não apresentava sinais vitais. Sua mão deslizou lentamente até o rosto dela, e dois dedos encostaram em suas pálpebras, cobrindo os olhos que ele tanto gostava de ver. Não queria mais encará-los. E aquela foi a última vez que ele se viu refletido nos olhos dela. A pessoa que ele tanto amara. E a voz dela tornou a surgir dentro dele, e pela primeira vez ele desviou o olhar do corpo para ver o que causara-lhe a morte. Ali, sobre a mesa anteriormente improvisada com um travesseiro e lençóis limpos, um recém-nascido chorava descontroladamente. Estava aos cuidados de uma mulher que ele pouco conhecia... Era "amiga" dela. Encaminhou-se para o pequeno, e um sorriso ainda meio fraco formou-se em seus lábios, eliminando um pouco da tristeza das lágrimas que escorriam por seu rosto. Encarou seu filho pela primeira vez. Parecia, ao rapaz, que nada importava além de tentar fazer a mulher superar a dor e viver. Mas havia ali um motivo para desviar seu olhar dela: seu filho.
Naquele momento, ele percebeu que valia a pena continuar vivendo. Cuidaria do pequeno com todas as suas forças. Mal sabia ele que, em pouco tempo, perceberia que o moleque tinha os olhos da mãe... Mais um motivo para zelar por ele sempre.
Pietro T.

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