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domingo, 16 de janeiro de 2011

O adeus Dela, a esperança Dele

E então o braço dela escorregou por um dos lados da cama de armar, cujos lençóis brancos estavam pincelados aqui e ali pelo sangue da mulher que acabara de dar seu último suspiro antes de partir. Ela se fora. Era a última - ou melhor, a única - pessoa que ele contava para viver consigo, que ele um dia cogitara se casar. Acabaram-se, naquele fim de noite, todos os sonhos que ele um dia tivera para com ela, a única pessoa em todo aquele mundo na qual ele planejava algo para o futuro. Tudo terminou como num piscar de olhos, tão inatingível quanto um fiapo de fumaça se dissipando pelo ar.
As últimas palavras dela ainda ecoavam firmes em sua mente, embora ligeiramente trêmulas, totalmente contrárias àquela personalidade de mulher forte que ela tinha: "Cuide dele. Cuide...". E ela não teve tempo de terminar sua frase. Sua força já se desintegrara por completo, e aqueles olhos - ah, aqueles olhos, que ele tanto gostava de apreciar - já pareciam não exibir a antiga luz natural que ela mostrava toda vez que o encarava.
Ele se levantou. Estava, segundos atrás, praticamente estirado no chão, ao lado da cama baixa em que o corpo morto já não apresentava sinais vitais. Sua mão deslizou lentamente até o rosto dela, e dois dedos encostaram em suas pálpebras, cobrindo os olhos que ele tanto gostava de ver. Não queria mais encará-los. E aquela foi a última vez que ele se viu refletido nos olhos dela. A pessoa que ele tanto amara. E a voz dela tornou a surgir dentro dele, e pela primeira vez ele desviou o olhar do corpo para ver o que causara-lhe a morte. Ali, sobre a mesa anteriormente improvisada com um travesseiro e lençóis limpos, um recém-nascido chorava descontroladamente. Estava aos cuidados de uma mulher que ele pouco conhecia... Era "amiga" dela. Encaminhou-se para o pequeno, e um sorriso ainda meio fraco formou-se em seus lábios, eliminando um pouco da tristeza das lágrimas que escorriam por seu rosto. Encarou seu filho pela primeira vez. Parecia, ao rapaz, que nada importava além de tentar fazer a mulher superar a dor e viver. Mas havia ali um motivo para desviar seu olhar dela: seu filho.
Naquele momento, ele percebeu que valia a pena continuar vivendo. Cuidaria do pequeno com todas as suas forças. Mal sabia ele que, em pouco tempo, perceberia que o moleque tinha os olhos da mãe... Mais um motivo para zelar por ele sempre.

Pietro T.

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