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quarta-feira, 18 de março de 2015

Encontro no Busão

Moço, o que você pensa?

Detrás dessa face inexpressiva,

escondendo-se por esses olhos vazios...

Moço, o que você sente?

Dentre as batidas de seu coração,

oculta-se um misto de sentimentos...

Moço, o que você almeja?

Quais desejos ardentes

tencionam seus passos?

Moço, o que você possui?

Será que os bens que carregas

não o torna dependente?

Moço, o que você sabe?

Que segredo suas sinapses,

memorizam sem jamais olvidar?

Eu não percebo sinais de resposta,

pois o acesso não me é permitido.

Eu sinto apenas um mundo,

porém o toque não me é permitido.

O encontro é breve, o instante é preciso,

E eu te vejo partir, te deixo partir,

pois no fundo, no fundo mesmo,

nada disso realmente importa.

Rabiscá-lo-ei da memória

afinal isso é, exclusivamente,

Um encontro no busão...

Lucas de Figueiredo

terça-feira, 17 de março de 2015

Eu quero uma casa na praia

Eu gostaria de uma casa na praia, mas esse sonho é apenas outra mentira. Contudo, esse desejo não é de todo mito, pois a casa não precisa ser na praia.

Não reparo em tamanhos, não percebo espaços. Quero paredes pintadas com lágrimas de meu pranto e decoradas com o sorriso de minhas gargalhadas.

E eu quero dar festas. Comemorações com direito a balões enchidos de respirações passadas e velas que reluzem sonhos futuros.

Nos finais de semana quero piqueniques nos dias quentes e cobertores quando o frio chegar. Ao término de grandes atividades, almejo a sensação de deitar-me no sofá numa sexta à noite e relaxar, mesmo sabendo da louça que me espera para lavar no sábado de manhã. Pela madrugada afora, quero ver as estrelas antes de fechar os olhos, assim como espero sentir os raios de sol antes de me cegar com seu brilho ao desafiá-los, no ato de fitar diretamente o grande astro ao surgir da aurora.

Eu quero um lugar meu, mas que eu possa receber visitas. E no final gostaria de vender essa casa para alguém que também a deseja, pelo preço de poder viver, por ao menos um único dia, em sua companhia. Nessa casa, nessa vida, nesse mundo...

Lucas de Figueiredo

segunda-feira, 16 de março de 2015

Vidro Emoldurado

E novamente estou olhando para o pedaço de vidro emoldurado. Eu não sei o que pensar ou como agir, pois não sei por onde começar. O passado não me mantém sobre sua base e o futuro me arranha com suas incertezas. Pensar dói. Eu poderia traçar planos, coordenar atitudes ou matar o tempo, mas nada disso me apetece a alma. Eu não quero comer, não quero dormir, não quero jogar. Sinto-me perdido e só, mas isso não me deixa triste, porém entedia-me a ponto de me confundir os miolos. Eu sinto medo, mas não é um medo qualquer como aquele de dormir no escuro. É um medo gerado por incerteza, que brota do fundo da barriga e vai gelando, pouco a pouco, toda a parte de cima do corpo. É o medo de estagnar, da involução e da desmotivação da vontade de viver. Eu não tenho medo do futuro, nem do passado e muito menos do presente. Eu tenho medo de mim. De me tornar algo que eu não gostaria de ser. De sentir emoções que não estou preparado para sentir. E não há mais tempo para indecisões. Os conceitos podem permanecer ou serem quebrados de vez, mas somente eu poderei dar o primeiro passo. E eu não estou pronto para decidir. Não sei o que dizer e desconheço os sentimentos mais complexos que afloram de mim e não compreendo como devo passá-los adiante.

Eu estou numa rua deserta, no meio da escuridão que assola a madrugada. Não há casas, não há arvores e não há vida. Somente meu corpo habita esse mundo sinistro. Não quero andar, mas sinto que não posso continuar onde estou. Sinto que não pertenço a este lugar, mas qualquer outra localidade é mais estranha que esta. Eu preciso me decidir, mas eu não quero, eu não vou, eu não devo, eu não posso.

Eu não sei o que escrever também, pois quando me olho no espelho eu não vejo ninguém.

Lucas de Figueiredo

domingo, 15 de março de 2015

Sinfonia da Vida

A redoma de gelo quebrou e seus fragmentos voaram ao som do vento. O vento que liberta, dá suporte ao vôo e entrelaça os corpos com a melodia sinfonante da vida.

Ao som de meus passos eu andei durante horas sabendo apenas para onde ir. Não sabia a hora do retorno nem fazia ideia de como agir e o que sentiria ao trilhar por aqueles caminhos. Não me passou pela cabeça que talvez não houvesse retorno.

Vi e conheci gente nova. De todos os tipos, de todas as raças e com as mais diversas intenções tatuadas no corpo e na mente. E eu conheci você.

Seus cabelos suados não balançavam muito com o vento e sua voz não podia ser ouvida direito no meio do som e da algazarra da festa. Mas eu sentia suas intenções e pensamentos... Eu te sentia. É claro que eu posso estar errado em afirmar isso, mas é o que eu ainda penso. E eu sinto a saudade de teus lábios, de teu toque, tuas palavras, gestos, atitudes e pensamentos. Sinto saudade de barulho que fazia lá fora, pois embora ele apagasse uma parte de sua voz, ele me fazia entender aquele mundo novo ao qual eu estava a um passo de fazer parte.

E eu quero voltar, pois agora estou liberto. Sem medos, sem ressentimentos e finalmente com o conhecimento que eu precisava ter sobre meu corpo e minhas emoções. Não vejo a hora de encontrá-lo novamente e sorrir ao sentir o calor que borbulha em meio as nossas vidas. Nossa vida é o vento, a festa alegre na qual estamos é o calor que nos aproxima e a paixão presente no meu peito me encanta e alucina...

A redoma de gelo quebrou e seus fragmentos voaram ao som do vento. Enquanto isso, meu amor por você escapa do corpo e flui para o universo. Livre e feliz, enlaçado com a melodia sinfonante da vida.

Lucas de Figueiredo

sábado, 14 de março de 2015

BREVE ANÁLISE DA VIDA

Nós e a vida,

Esse eterno pensamento,

É uma troca sentida e permeada

de amor e sofrimento.

Nas noites em claro,

numa festa sem bolo,

no adeus sem consolo

Ela está sempre lá,

transeunte:

pergunta

o que

sonhar

para a próxima

rodada.

E tu, navegando a

estrada do nada,

É que a vês, muitas

vezes sem roupa:

nessa hora a culpa

é pouca, e a visão da

vida, embora bela,

é também sutil e louca.

E achando que

a compreendeu,

é que um dia

a tua luz se

apaga.

Não é a morte

que traz a

verdade:

traz apenas

o fim desta

realidade, e a

fagulha de

mistério

chamada totalidade.

Rafael Cardoso

sexta-feira, 13 de março de 2015

FUNCIONÁRIO DO POEMA PÚBLICO

Bordoadas protocolares

Levam um sujeito à concordata?

Conhecer as gerências do pensamento

Não resolve a incompetência

do coração.

O coração e o seu embate com os procedimentos operacionais.

O sistema está fora do ar,

O desejo de ser, fora de meus pés,

Saudades da endorfina, essa

deusa dos neurônios febris.

Hoje ausente em instrumentos normativos.

Estou em débito com os auditores

da moral, perdi o documento,

perdi a gestão do meu

contrato de vida.

Além dos pedidos de serviço,

dos recados a serem respondidos,

dos chamados dos homens no balcão,

ficou pendente também

algo que fica lá dentro,

algo que deixa o Sol mais claro

E o Metrô menos cheio. Algo em

Que não sei mais se creio.

O Natal chega e as pessoas felizes,

Eu espero por oito horas de sono.

Sentir em mim

Toda a ambivalência

Da escolha segura

E voltar pra casa

Outra vez macambúzio...

Que experiência profunda,

Que experiência terrível,

terrível e silenciosa.

Na curva do espaço,

O tempo se distorce

E vira mistério saber:

Saber o quê, para quem

E para quando.

Interligado a um sem fim de lugares,

Meu corpo sem alma

perde a referência

com que julga

As coisas e as palavras.

Rafael Cardoso

quinta-feira, 12 de março de 2015

A CASA COMO MERO DORMITÓRIO

Será que ainda há tempo

Para dar uma passada em casa

E dizer a si mesmo

Que pouca coisa mudou?

Que a vontade de amar

E o desejo de ser

Ainda se confundem

Numa entidade tão dinâmica?

Bordoadas protocolares

Podem levar o sujeito

à concordata? Espero em Deus que não.

E pensar que eu sabia da ambivalência

Contida na promessa de vida estável. Nem tão estável assim...

A tantas situações,

O meu mais belo desprezo.

Rafael Cardoso

quarta-feira, 11 de março de 2015

A PERDA DA TRANSCENDÊNCIA

Como é ficar longe

De algo que se quer tanto

Por tanto tempo?

Como é mergulhar em

reminiscências e sentir perder

a aura dos tempos áureos?

É duro, meu amigo. É como

Se uma louca, traiçoeira

Tanto quanto silenciosa,

Invadisse o coração da gente

Na surdina, sem barulho.

Aos poucos, sem dar o menor aviso de intromissão,

altera a composição dos neurônios

e impõe cimento às janelas

do pensar.

O lirismo pede exílio,

A alma endurece,

O olhar simplesmente se esquece

das inúmeras possibilidades

da realidade múltipla.

Assim, no fim das contas,

só resta o prazer da carne crua,

da imagem fácil,

da palavra sem dose de

mistério.

É duro, amigo, estar e não

estar ao mesmo tempo

na realidade

e viver uma vida psicológica

de pobreza e isolamento.

Rafael Cardoso

terça-feira, 10 de março de 2015

FORÇA DA PALAVRA

Eu queria que a palavra seguisse seu rumo ligeiro;

Sem semáforos de pensamento. Que ela fosse

fluída como a vida e esse momento. Que ela

dissesse tudo quanto queremos expressar. Pena

que a palavra cai da árvore e é preciso

revisar. E revisando vejo que digo

- não o que há comigo – mas com todos nós.

Afinal é a palavra que supera o tempo

e a vibração da nossa voz.

Rafael Cardoso

segunda-feira, 9 de março de 2015

Nada será como antes

Os sonhos cessaram de me perturbar a noite. Deve ser um bom sinal. Você pediu tanto a minha paz e a sua. Agora ambas foram atendidas. Os dias de insônia já não pertencem a esta mulher. Afinal, quando você me conheceu, ainda menina, eu apenas sonhava.

Ainda me pergunto se você se arrependeu das últimas palavras ditas em uma noite de sexta-feira quando os comércios estavam abertos e era possível falar um pouco mais alto, sem problema de acordar algum vizinho.

Pensei que seria mais difícil suportar a solidão. Mas escrevo poemas para libertar o amor que insiste em morar em mim. Abandonei a culpa de ter te perdido.

Será essa dor ter se transformado em inspiração?

A angústia e o desespero fazem parte do passado. Hoje consigo ler um livro e entender as frases que desencadeiam toda uma história. Consigo lembrar-me de um passado sem a vontade de correr atrás dos momentos que um dia me fizeram feliz.

Paz. Acredito que essa seja a palavra que melhor defina meu estado de espírito. Já não tento mais decifrar meus erros como enigmas. Prefiro pensar que estava errada em pensar que fosse dona do meu destino.

A vida irá passar. Já não posso mais perder os segundos. A cada amanhecer, arrancam-me um dia.

É tantos quereres! Pego-me diante de planos comigo e eu mesma, sem pensar em mais ninguém.

O gosto do beijo jamais será igual. Nada será como antes. Um suspiro deixou de ser um último ato, após a nostalgia tomar conta de mim, ele passou a ser simplesmente uma sensação de fadiga.

Mas mesmo que meus pés estejam cansados, eu correrei a um novo amor. Será por fazer. Porque tem que ser feito. Dito. Sentido e mais que isso, amado.

Vanessa Silva

domingo, 8 de março de 2015

Finado amor, eu te amo

Hoje recebi uma carta, do qual um assunto foi nomeado de fim. Pois é, esse era seu título. Como uma palavra com apenas três letras pode traçar o destino de duas pessoas?

Sim, eu sei. A palavra é pequena. Mas já parou para perceber que as menores partículas da terra movimentam o mundo? Tudo bem, eu também não havia pensado. Sem julgamentos. Sem estudos científicos ou algo do tipo. Apenas sobre a vida. O que já é por si só, bem confusa...

Aquela carta tinha um significado. Cada palavra escrita representava um sentimento. Uma escolha. Uma decisão a ser seguida. Apesar de pequena ela disse tudo. Já não precisava mais abri-la. Tudo estava dito em apenas três letras.

Amanhã ou semana que vem pode ser que esse fim não exista. Mas até lá, terei que conviver com a dor que não dói mais.

Desde criança, sempre pensei que nós faríamos o que quisermos com a nossa vida. Traçávamos uma meta e no fim do prazo, o pote de ouro estava lá. Pensava que ser apenas uma boa menina já bastava.

Os momentos não são assim. Eu não podia estar te contando isso. Na sua idade, eu ainda sonhava sonhos! Os pesadelos pouco me pertenciam. Seria melancólico e injusto pensar que não vale a pena o sofrimento. Quando bem digerido se torna algo bom. Faz bem gostar de mim, de você, dele e daquela outra pessoa ali também.

O amor está presente na comida que você tanto gosta de preparar. O amor está no seu travesseiro, após um dia cansativo. Ele te acompanha todo dia. Até uma saudação cordial para um mendigo é um sinal desse sentimento. Do qual, o ser humano não vive sem.

O fim está presente também. Para nos lembrarmos de que o amor é importante. Que a vida não é infinita. Que morremos todos os dias, em cada segundo que se passa.

A vida nada mais é que morrer a cada dia com a certeza de queremos mais um dia para prolongar o momento do fim.

Vanessa Silva

sábado, 7 de março de 2015

Dois Laços

Meu corpo esguio esquece toda a ética

Ao notar a sua essência poética,

No caminho ao encontro de seus lábios,

Que deixarão os meus muito mais sábios.


Que a minha postura, dita patética,

Nunca esmague tanto amor em pedaços,

Que a minha humilde compleição e estética

Jamais possa abrandar nossos amassos.


Pode o amor sumir pela força atlética

Que me falta? Isso gera embaraços? 

Não. E nem restam dúvidas posteriores 

Como já vi em outros amores depois,


Pois,
Não penses que é pura questão fonética

(Embora entre beijos existam dores) 

Que ajusta estes versos a seus espaços:

Ao navegar no mar da dialética

Inerente ao calor de seus abraços,

Vejo não ser de forma alguma cética

A união sem pudor de nossos braços.


Uma relação é mais que imagética,

É a reciprocidade de dois laços.

Rafael Cardoso