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sábado, 26 de julho de 2014

A culpa nada transgride: apenas obstrui a evolução da alma

Por Vanessa Silva

      Sempre se calcar pela cautela não está errado, mas a partir do momento em que não faz nada para agradar a própria alma, o desejo dentro que te impulsiona. Isso sim pode ser chamado de erro. Um pouco de dar vida a própria vida também é cometer os mais bárbaros e celebres instantes de insanidade. Sem se preocupar com os outros e dar vazão ao grito interior. Viver um relacionamento de aparências realmente não é digno com a nossa alma que nos acompanha tristemente todos os longos segundos. Depois de quase tudo que acabei de expressar, podemos definir em uma só palavra: Culpa.
      Quando deixamos de amar alguém que nos deu amor. Sentimos a culpa. Ela nos segue ou apenas somos nós que não a abandonamos. 
      Ao sair do trabalho com uma sacola de comida exalando o aroma até a outra esquina, em no momento seguinte se deparar com duas crianças, moradores de rua, sem nada para comer, ofereceu toda a sua refeição, mesmo com muita fome. Isso é culpa. Poderíamos dizer que foi um ato nobre de pura solidariedade, todavia sabemos que foi gerada uma culpa, como se fossemos responsáveis por toda desgraça que foi lançada sobre a terra. 
      O conflito interno na maioria dos seres humanos é causado pela falta de compreensão de si mesmo. Pelas renuncias de felicidades, nessa hora a alma fica inconformada com a ausência de coragem.
      O pecado seja ele qual for é uma forma de transgressão. Afinal, se é necessário um momento para ser lançado além do permitido, também não devemos pensar no pecado de modo pejorativo. Pois enquanto houver o ser humano sempre haverá o pecado. 
      A culpa nos consome. Ao trair nós mesmos, lidamos com a hipocrisia de atuar como fantoches de um público autoritário e que não permite erros. Essas ações impedem a capacidade de construir os alicerces da própria felicidade. 
      Convivemos mais com a culpa do que imaginamos. Somos mais religiosos do que percebemos. Culpei-me tanto por ceder às minhas vontades. Ao me preocupar tanto com o pecado que não aproveitei a transcendência, a minha evolução. 
      A culpa que insiste em martelar aqui dentro: pode vir em forma de água, de fúria ou sair arrastando tudo, mas a única maneira de conter, sem deixar resquícios de arrependimento, é se conformar que tinha que ser assim.
      No cotidiano não é corriqueiro as pessoas comentarem sobre o vazio que existe dentro de cada um. Entretanto, ele está lá o tempo todo. 
      Lançar-se no trabalho com a intenção de preencher o vazio. Doar-se para um templo religioso. Privar-se de itens de vaidade, vestuários e comidas. Deixar de fazer sexo. Estas são apenas algumas de muitas ações que o ser humano se priva em prol de obter o perdão.  A culpa está em nós mesmos – ela está em você. 
      Muitas das atitudes daqueles que creem em Deus pode sim ser consideradas como bondade, espiritualidade e os mais belos sentimentos, todavia, tudo pode se resumir como: Culpa.
      São inúmeras as formas que as pessoas têm que pagar uma dívida com Deus. Como se sentissem culpados por não conseguirem resolver os próprios problemas.
      A culpa sempre vai nos acompanhar, não tem jeito de nos livrarmos dela, simplesmente é necessário a apreender a conviver. 
      Sempre será esse circulo vicioso. Criam uma regra, depois como é proibidos todos querem fazer. Enquanto não realizam o desejo, julgam-se o tempo todo por querer fazer. Até o ponto, em que não conseguem mais parar de pensar em como vão saciar a vontade. Quando chega o ponto que não tem como não cometer o erro, em um momento insano de em que se lançam eles transcendem. O desejo foi cumprido. O prazer exaltado.   
      A sensação de alívio é inevitável. Entretanto, a transgressão da alma já ocorreu. A consciência já percebeu a presença do pecado. 
      O pecado se faz presente: A culpa se instala. Só há uma coisa a se fazer. Punir-se. 


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