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quinta-feira, 20 de junho de 2013

Uma viagem inesquecível - A Grande Aventura - Capítulo 2 - A embarcação

A noite fora longa, depois que todos registraram suas assinaturas a festa finalmente começou, com muita dança e cantoria, mas como a maioria ali presente tinha que arrumar seus objetos para a viagem do dia seguinte e se despedirem de seus entes queridos, tudo foi finalizado mais cedo do que o pretendido.
Pedro estava ansioso, levantara aquela manhã com uma animação raramente vista, vestira sua melhor roupa, se despediu de seu querido pai e partiu em direção à praça com uma pequena maleta contendo tudo o que acreditava ser essencial, inclusive seu pequeno caderninho de anotações.
O sol despontava no horizonte e a praça estava abarrotada de homens quando a Armada do Rei chegou. As caravelas já estavam prontas para a grande viagem. Eram completamente maravilhosas, de madeira escura com detalhes claros e imensos mastros, de velas triangulares que possuíam uma grande cruz vermelha desenhada em cada uma.
A bandeira real de Portugal estava estendida no topo da popa e no topo do mastro, a parte mais alta da nau, colocada estrategicamente para a visualização de todos.
Muitos tripulantes, assim como vários familiares, se encontravam chorosos já sentindo saudades daqueles que estavam prestes a partir, mas Pedro não, ele estava cada vez mais animado, os olhos vidrados com a presença tão próxima da realização de seu sonho. Sua euforia era crescente.
—O senhor está muito formoso esta manhã, seu Pedro.
A voz suave e doce adentrou seu ouvido, fazendo seu coração disparar. Virou rapidamente seu rosto e lá estava Ela. Isabel fora se despedir afinal. O rosto não estava sorridente como na noite passada, os olhos estavam levemente inchados e o nariz despontava uma coloração avermelhada, no entanto ela continuava linda, sempre seria maravilhosa para Pedro.
—Dona Isabel, que prazer em vê-la! Já lhe disse, me chame apenas de Pedro! O que a trás aqui?
Ele estava feliz em vê-la e ao mesmo tempo extremamente triste, não esperava ter de se despedir dela, era muito duro pensar no fato de deixá-la para trás, não podendo ter a plena certeza de que estaria bem, de que sua mãe bruxa e cruel não iria influenciá-la para que escolhesse um partido endinheirado, mas faria aquela viagem por ela, no intuito de conquistar um bom lugar na sociedade e poder então casar sem fazê-la passar vergonha ou qualquer necessidade.
Ela revirava os olhos com a insistência dele de fazê-la chamá-lo apenas pelo nome.
—Vim me despedir de você Pedro, é claro! E por favor, me chame de Isabel.
Ela abria um sorriso tímido no canto dos lábios, um tanto quanto sem graça.
Um apito foi ouvido e um homem berrou para que as pessoas embarcassem logo.
—Bom... É muita consideração sua, espero que a senhora sua mãe não se aborreça.
Ele olhou de esgoela para o homem que sinalizava com um sino estridente para os outros adentrarem rapidamente nas caravelas, o que significava que seu tempo estava se encurtando cada vez mais e ele não sabia o que fazer, não queria deixá-la sem ao menos ter a certeza de que o estaria esperando voltar.
—Não, não se preocupe, ela não tem nada haver com isso.
Ele engoliu em seco, a moça parecia decidida em não ligar para o que a mãe pensaria daquele ato, o que o preocupava, não queria prejudicá-la e não se perdoaria se ela fosse castigada por sua causa.
—Dona Isabel...
A voz de Pedro falhara, os olhos dela estavam fixos no rosto dele, esperando-o falar.
—Sim?
Ela parecia ansiosa para ouvi-lo, como se esperasse por algo.
Pedro pigarreou, estava nervoso, sentia a ponta das orelhas queimarem.
—Hum... A senhorita... Hum...
Ele não sabia como dizer isso, um nó se formava em seu estômago.
—ÚLTIMA CHAMADA!  PARTIREMOS EM CINCO MINUTOS!
O homem gritava anunciando a aproximação da viagem e a falta de tempo que Pedro estava tendo para tentar explicar para Isabel tudo o que se passava em seu coração, ainda mais porque não estava em seus planos fazer nada daquilo, achou que iria chegar na praça naquela manhã, embarcar e que seria fácil esquecer daquela vida por hora, mas com ela ali, na sua frente, tudo mudava de perspectiva. Finalmente a ficha tinha caído e ele não sabia se conseguiria concluir seu desejo.
Vendo a dificuldade que ele estava tendo, ela ergueu a mão direita, encostando levemente a ponta dos dedos em seus lábios. O odor e o calor daqueles dedos confortaram Pedro, aliviando-o um pouco da dor e da preocupação que sentia naquele momento de despedida.
—Não se preocupe... Estarei lhe esperando...
Ele abriu um sorriso maior do que todo o continente americano que iria encontrar dali algum tempo, pegou a deu um longo beijo nas costas da pequenina mão de Isabel. A moça também sorria feliz.
Logo em seguida ele saiu correndo em direção à caravela, olhando para trás e tropeçando nas pessoas, vendo sua querida Isabel enquanto se afastava.
—Eu voltarei, espere por mim meu amor! Eu te amo!
Ele falava alto e animado em meio à bagunça que se fazia no lugar, vendo-a estender e balançar um lencinho branco em meio a sorrisos chorosos. Teve quase certeza de que seus lábios disseram “Boa viagem meu amor!”. Não conseguia conter a felicidade que estava sentindo, as emoções estavam a mil. Subiu a bordo e viu pela última vez sua querida amada, agora adentraria em uma aventura sem volta, cheia de mistérios nunca antes vistos.

Jéssica Curto



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