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sexta-feira, 21 de junho de 2013

Uma viagem inesquecível - A Grande Aventura - Capítulo 3 - A mudança

—Bem vindos à bordo tripulantes, vocês estão prestes a adquirir experiências totalmente únicas, mas antes, nosso capitão-mor, o senhor Pedro Álvares Cabral gostaria de dizer-lhes algumas palavras.
O homem que estivera na praça na noite anterior falava em cima da proa, estava bem vestido como antes, mas agora seu uniforme era vermelho como os demais oficiais do Rei. Todos os homens em baixo olhavam para a proa atentamente, ansiosos para finalmente conhecerem o tão famoso capitão.
Um homem de pele alva com uma mediana barba negra, usando um grande casaco vinho de panos grossos apareceu no alto da proa, o rosto sério observando sua tripulação. Foram longos minutos de silêncio e análise tanto dos tripulantes para com o capitão-mor quanto dele para com os outros, até que finalmente se pôs a falar, com uma voz forte, que demonstrava autoridade e poder.
—Bem vindos tripulantes, à maior viagem de suas vidas! Não pensem vocês que será fácil, enfrentaremos muitos desafios e precisaremos de muita garra e força de vontade, por tanto, vamos nos dedicar para que esta jornada traga os melhores resultados possíveis e que seja uma experiência inesquecível!
Pedro observava o capitão-mor dando seu discurso que continha as instruções de como eles deveriam se comportar e era como se tudo fosse um grande sonho, ele não conseguia acreditar que estava no meio do mar cercado por homens estranhos, seguindo rumo a um mundo novo por mares desconhecidos, tortuosos e desafiadores.
—Quem aqui tem uma boa experiência com escrita?
Cabral encarou os tripulantes que ficaram calados, a maioria mal sabia ler, quem dirá escrever bem. Pedro ergueu a mão, o sorriso o sorriso imenso nos lábios. O serviço de seu pai e as horas ajudando-o em seus empreendimentos ultramarinhos serviriam para alguma coisa, afinal!
—Você meu jovem, venha cá!
Cabral apontava para Pedro, fazendo todos os rostos ali presentes voltaram-se para o menino de cabelos lisos e negros, usando um pequeno chapéu marrom na cabeça, de finos bigodes e um corpo forte, de ombros largos. Um pouco corado, ele se direcionou para a proa.
—O nosso primeiro imediato Antônio determinará a função de cada um de vocês, qualquer problema consulte-o.
O anunciante da noite passada voltava a falar, descendo as escadas e organizando as pessoas em suas devidas funções, enquanto Cabral saia com Pedro para dentro de sua cabine, um local com diversas janelas nas laterais, o que tornava o ambiente muito bem arejado e iluminado. O cômodo era genuinamente decorado com uma mesa de madeira marrom escura com duas gavetas em cada lateral e uma mais comprida ao centro estando encostada no fim da sala, tendo em cima diversos objetos curiosos, entre eles uma caravela em miniatura idêntica a que eles se encontravam neste instante e uma grande fileira de bonequinhos militares de chumbo, pintados com o uniforme oficial de Portugal. Ao lado, um pouco mais a frente, havia uma grande mesa com um globo branco no meio, e uma parede lateral coberta por diversos mapas diferentes.
Na parede oposta alguns quadros com paisagens bonitas, entre eles, o maior, no centro de todos, com uma moldura trabalhada estava a de Cabral, usando um chapéu de veludo azul com detalhes dourados. A barba cacheada e castanha estava muito bem feita, a expressão séria, com os olhos direcionados para além do quadro, não o encarando, e sim em uma posição lateral. No retrato, a roupa era feita igualmente de veludo azul com detalhes em dourado e vermelho. Uma espada repousava em sua bainha, presa na cintura de Cabral e ao fundo um mar resplandecente com uma pequena torre posicionada em sua direita e montanhas ao fundo. O céu de um tom azul, dando a impressão de que já anoitecia.
Em um poleiro ao lado do quadro se encontrava um papagaio silencioso de olhos atentos, de lindas penas cinza com detalhes em vermelho nas pontas da calda.
—Este é o Loro, meu grande companheiro, uma beleza, não?
Cabral olhava para o bicho por uns instantes.
—Sim senhor, é muito lindo!
Pedro se voltava para o capitão, ignorando o animal que o encarava avidamente. Cabral aproximou-se de uma mesa onde se encontravam algumas bebidas e pegando duas pequenas taças encheu-as com um líquido de uma coloração vermelha, entregando uma para Pedro e bebericando a outra.
—Então, você é bom em escrever?
Cabral agora se atentava nos mínimos detalhes das expressões do jovem, observando-o minuciosamente. Pedro se sentia desconfortável com a situação, pegou o pequeno cálice, mas não o levou a boca.
—Sim senhor, meu pai é escrivão, tenho o costume de ajudá-lo com suas execuções ultramarinhas.
Cabral ergueu as sobrancelhas revelando sua admiração. Era difícil encontrar pessoas dedicadas à escrita que não fossem da corte real. Deu mais um gole, saboreando o líquido.
—Pois bem, então o senhor irá escrever nossa viagem passo a passo para Vossa Majestade. Por sinal, a bebida está uma delicia, é vinho, o melhor que dispomos aqui, beba, vai gostar.
Pedro arregalou os olhos, não imaginava que teria tal missão, por muito menos sonhou em ser apenas mais um tripulante, quem sabe um dia um oficial, mas nunca o mensageiro que teria de relatar ao Rei o que se passava. Sentiu a garganta seca e bebericou o vinho, era realmente delicioso. Terminou-o em um gole sentindo sua garganta pegar fogo e as bochechas queimarem.
—Está bem para você, meu jovem?
Cabral via o rapaz embasbacado e esperava uma reação mais altiva de sua parte além de terminar o vinho sem saboreá-lo como Cabral considerava ser o correto.
—Si-sim claro, senhor.
A sorte realmente deveria estar sorrindo para ele, não podia ser mais perfeito.
—Pode ir agora.
Cabral retirou a taça das mãos de Pedro, vendo o menino fazer uma leve reverência e andar em direção a porta lentamente.
—Ah por sinal...
Cabral falou rapidamente, fazendo o rapaz se voltar para ele.
—Sim?
Disse Pedro, não conseguindo conter o sorriso e a felicidade.
—Qual o seu nome, meu jovem?
Cabral sorria de volta, simpaticamente.
—Pedro, senhor, Pedro Vaz de Caminha.
Pedro falou em um tom calmo, mas por um instante sentiu um frio no estômago, o homem fechara a cara, completamente sério, toda a simpatia dantes sumira no segundo seguinte.
—EU sou Pedro... Capitão-mor Pedro Álvares Cabral, você... Pero, ou se preferir, qualquer outro nome, estamos entendidos?
Ele erguia uma sobrancelha, falando com ar imponente, esperando a reação do garoto que apenas fez um leve sim com a cabeça. O papagaio soltou um pequeno berro.
—Está bem, agora vá!
Pedro olhou de soslaio para o bicho que agora ficava de ponta cabeça no poleiro e então se voltou para a porta, saindo da sala, completamente embasbacado, tinha a melhor função que poderia imaginar, mas teria que abandonar seu tão precioso nome. Bom, mas seria por um curto período de tempo, não tinha importância, um d a mais ou a menos não faria muita diferença.
Assim, a partir de hoje ele passa a ser Pero, para não haver confusão entre ele e o capitão-mor Pedro, e para não enaltecer também a fúria do mesmo de querer ser o exclusivo dono do nome.
O imediato Antônio o direcionou até seus aposentos e, diferente dos outros que dormiam juntos e amontoados, Pedro, ou melhor, nosso mais novo Pero Vaz de Caminha tinha seu quarto separado, particular, com uma confortável e grande cama e uma boa escrivaninha para relatar os acontecimentos existentes ali.

Jéssica Curto


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