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segunda-feira, 25 de março de 2013

Águas de Março


Em março, seis fatos conseguiram se destacar na mídia. São eles: os julgamentos do goleiro Bruno e do advogado Mizael, o atropelamento de um jovem que perdeu o braço, a morte de Chorão e Hugo Chávez e a eleição do novo Papa.
Ufa! Vamos por partes. Tem gente achando que Bruno e Mizael pegaram uma pena leve por seus respectivos crimes. Também acho. Mas trancafiá-los por anos a fio não trará de volta as mulheres mortas por eles. Pessoas assim devem ser condenadas a fazerem o contrário do que produziram. Ou seja, em vez de punir assassinos com uma vida inútil atrás das grades, eles devem servir à sociedade, que prejudicaram. Que sejam detidos, tudo bem. Mas que façam algo pelo bem das pessoas e deles mesmos. Deveriam prestar serviços comunitários por muitos anos, pois o mal está feito e é irreparável, mas o futuro pode ser diferente.
Sobre o caso do jovem atropelado, é difícil não ficar indignado. Ele teve seu braço arrancado pelo carro e pior: o motorista jogou seu braço no rio, eliminou a chance de recolocar o membro. Como é que um sujeito desses pode estudar Psicologia? O pobre jovem, ainda no hospital, perdoou o homem e tentará recomeçar a vida. O atropelador, provavelmente, já não tinha cérebro quando cometeu o ato. E muito menos coração.
Em pouco menos de 24 horas, Duas mortes foram confirmadas: as de Hugo Chávez e Chorão. Chávez era autoritário, orgulhoso e dominador. Mas é inegável que a miséria caiu na Venezuela graças a ele. Como Fidel Castro, ele teve coragem de desafiar todo o poder norte-americano e fortalecer o Estado, essa instituição tão enfraquecida nos dias de hoje. Chávez fará muita falta ao seu país.
O segundo óbito nos atinge mais. Chorão, vocalista da banda Charlie Brown Jr., tinha uma poesia cujo lirismo era compreendido pelas pessoas humildes. Ele retratava as dores individuais que tantas pessoas sentem pelos mesmos motivos, muito embora sofram sozinhas na escuridão.  Nas letras de Chorão, o amor ganha uma dimensão mais ampla, fugindo dos modismos superficiais. Infelizmente, é mais uma alma que vai antes que pudesse ser salva.
Salvação é a palavra sagrada agora na Igreja Católica. Tanto quanto a salvação dos fiéis, ela busca a sua própria. O novo Papa pensa de modo semelhante ao anterior, isso fortalece as bases sobre as quais se fundou a Igreja, mas vai na contramão das ideias contemporâneas. Francisco começa a levantar a bandeira da luta contra a pobreza. Essa sim pode ajudar a Igreja a recuperar os fiéis perdidos no terceiro mundo para religiões mais arrojadas e menos regulamentadas.
Não há muita ligação entre os fatos citados, mas isso é uma característica do mundo moderno: é cada vez mais difícil ver uma relação entre a vida das pessoas e a história do mundo. Chorão morreu por problemas que estão na sociedade, e não apenas nele; o Papa do século XXI tenta salvar uma grande instituição milenar; o trânsito está ruim e as pessoas andam loucas, arrancando braços a esmo. Tudo isso se deve a questões sociais, tudo isso se deve a causas mais profundas complicadas de vermos no dia a dia porque as notícias aparecem de forma fragmentada.
Há tempos não se via tantas notícias de peso em tão pouco tempo. O que é triste é sentir o consumo dessas informações com pouca ou nenhuma reflexão por parte da maioria das pessoas: jornalistas, pensadores, pessoas que leem os jornais todos os dias.

Rafael Cardoso

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