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terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Mensagem aos amigos





O ano que está terminando bateu todos os recordes. Do trânsito, do PIB, das mensagens de texto, das horas sem descanso e da correria nossa de cada dia. Foi o ano do colapso das vias urbanas, da saturação de uma São Paulo que sobrevive à base de pontes de safena: um corredor de ônibus aqui, uma nova estação ali... E assim vamos andando. A infraestrutura da cidade fica sobrecarregada e com ela, os nossos corações. Ninguém se esforçou mais do que eles nesses doze meses. Atravessaram a cidade em dias de chuva, trabalhando ou estudando em ambientes claustrofóbicos. Choraram em dias terríveis e sorriram com o retorno do Sol. E hoje estão aqui conosco, dentro de nós, esperando o amanhã e refletindo sobre ontem.
Muitos começaram um emprego nesse ano, outros, um namoro, alguns visitaram lugares inéditos e sentiram o vento das novas ideias. Apesar dos momentos de ar puro, houve também as obrigações do dia-a-dia, que por vezes sufocaram sujeitos cuja única forma de se expressar era por meio de um computador. Que bom que os PCs existem, mas é uma pena estarmos sufocados. Não era pra ser assim em tempos de culto extremo à tecnologia. Os drivers estão aí para nos ajudar, mas ainda precisamos de nós mesmos, e que bom que continua assim! As ferramentas devem ser um meio para um determinado fim, um objetivo específico, não apenas um meio para ter mais meios. Os Whatsapps da vida nos levam mais rápido à mente das pessoas, mas são as nossas ideias e valores que chegam a seus corações. Ainda não inventaram um seguro para a solidão e nem um aplicativo para o amor verdadeiro. É preciso ir além das plataformas digitais e promover a verdadeira interação entre as vidas das pessoas, e isso pode ser feito com os mais simples sentimentos. Mas não é fácil fazer o que é certo.
É complicado viver num mundo eficiente da indústria e caótico na saúde. As pessoas querem viver a utopia do mercado e ficam doentes do corpo e da mente. Depois, culpam somente o Estado, mas deixam as empresas cortarem funcionários e precarizar as profissões. Quem quer pensar o Brasil precisa enxergar a corrupção que vai além da política, aquela que está em quase todo o país. Precisa notar que o modo de vida dos privilegiados faz mal a toda a coletividade. 
Fica difícil, por exemplo, andar numa cidade na qual ricos pegam o carro, vão à academia e passam duas horas numa bicicleta que não anda. Um mundo onde achamos o máximo falar ilimitado por 30 centavos sendo que pessoalmente ainda é de graça. É claro que a ligação encurta a distância e mata a saudade. É claro que outras tecnologias podem ajudar, mas é sempre até certo ponto. Pelo triplo da metade compramos o dobro e achamos que gastamos menos. A nossa salvação não está no próximo lançamento do mercado. Essas coisas deveriam nos servir e não nós a elas. 
Os problemas pós-modernos são complexos, ainda não temos claras respostas. O cotidiano, por exemplo, está sempre melhorando num ponto e piorando no outro. Nós, por exemplo, não somos criaturas perfeitas, nem sequer sabemos como seria a perfeição. Às vezes pisamos na bola sem perceber e queremos ganhar em todas as frentes. Em outras nos fechamos a ideias que poderiam fazer bem a nós mesmos e ao próximo, e nos trancamos em pensamentos sem janelas. Até porque, convenhamos, lá fora não se acha gente compreensiva assim tão fácil. Tudo é complexo, tudo tem lado bom e lado ruim, tem dúvida e diversos pontos de vista. Ainda assim, existe algo que indiscutivelmente precisamos fazer: precisamos buscar mais equilíbrio para os nossos dias. Consumir é natural, consumismo é insustentável. Conhecer pessoas é fundamental; amar, mais ainda, mas conhecer é muito mais do que olhar. Duzentas curtidas animam, mas não mais que um abraço. Viajar é belo, navegar é preciso, visitar é divino... Porém é triste dar a volta ao mundo sem ir ao fundo de si mesmo.
E essa tarefa de melhorar a vida é minha, é sua e de todos nós. Afinal, é juntos que construímos a cidadania. A discussão inteligente tem de ser incentivada. Os problemas estão aí. Fugir deles é simplesmente fugir da vida.
No ano que vem, eu espero que possamos enfrentar os nossos desafios de cabeça erguida e superar, novamente, todo o cansaço e a incompreensão, toda a correria e o medo. Através do amor. Ele não faltou esse ano. Ele apareceu nos mais sublimes (e também delicados) momentos do calendário. Nas horas de dor e de alegria, nos instantes solitários e redentores. E vai estar conosco ainda mais forte, em cada rua agitada que atravessarmos, em cada projeto que avançar pelas madrugadas, em cada porta de Metrô que se recusaea fechar. Que a porta da esperança, essa sim, não aceite ser batida, que esteja sempre aberta aos sonhadores, aos amigos da paz e da união. É na dificuldade que crescemos.
Juntos, poderemos vencer os desafios mais uma vez. Venceremos a noite e chegaremos inteiros na manhã. Que 2014 seja repleto de arte, saúde, respeito e vitória para todos os amigos.

Rafael Cardoso


segunda-feira, 4 de novembro de 2013

DIFÍCIL VIDA DAS RIMAS


Com tanta imagem
E virtual mensagem
É difícil ter clima
Pra fazer uma rima.

Terminações semelhantes
Parecem perder a graça...
Porém a palavra enlaça 
Até mais do que antes.

Porque nada como
Captar o momento,
Como ser ao escrever
E sonoramente ler
Um novo pensamento

E mostrar que ele prima,
E prima exatamente
Pela magia da rima
E a harmonia do elemento.

Rafael Cardoso

domingo, 3 de novembro de 2013

AS PALAVRAS E AS COISAS

De repente vomito palavras
Saem numa torrente veloz
Como anseio de jovem
Necessidade de externalizar tudo 
Que não foi deglutido.
E este lirismo, repetitivo e sonolento,
Revela-se incapaz de revelar
A mística das ideias
Que se formam na mente sem palavras.

Por que cheira a trevas
Tempos tão abastados?
Porque não fazer o poema
que resgata todas as coisas
e instaura a harmonia das horas
perfeitas? Não me é possível, meu
caro ou minha cara que me lê (e demais gêneros).
A consciência diz que 
evitar o sofrimento é desistir do jogo.
É preciso recriar sentidos,
repassar valores, estabelecer metas,
reapropriar o ser da capacidade
emancipadora de fazer com gosto.
O orgulho e a segurança 
De fazer aquilo que deve ser feito.

De repente vomito palavras
Porque são de tempo distante,
Porque não encontram
representação na realidade,
como diria Wittgenstein.

Rafael Cardoso


domingo, 20 de outubro de 2013

Confissões de um depressivo - Parte 1

Resolvi escrever, porque tem tempos de que não faço algo de que gosto profundamente.
Aliás minha vida anda sendo uma grande piada sem graça nos últimos meses, uma ironia sem fim.
E ando me sentindo tão depressivo que às vezes gostaria apenas que tudo acabasse, que tudo simplesmente recomeçasse... 
E parece que nunca vai melhorar, que no fim a tendência é essa, e me sinto tão infeliz, tão triste, tão incapacitado.... O mundo me deu tantas oportunidades de que não soube aproveitar, e hoje sofro por consequências das minhas próprias escolhas.
Entenda isto apenas como um desabafo, já que até a tentativa de procurar um psicólogo foi frustrante, o meu parco convênio não cobre.
E no fim eu deveria apagar tudo isso e simplesmente esquecer, seguir sem me preocupar, e às vezes sou tomado a fazer isso, mas nem sempre estou animado, às vezes me falta ânimo para qualquer coisa, ate para respirar.
Estou tendo problemas respiratórios ultimamente, você sabia? Guarde este segredo com você, mamãe e papai não sabem ainda, e acho que não contarei, eles já tem problemas demais para se preocupar.
Mas o bem da verdade é que está cada vez mais difícil viver nesse mundo tão estranho, tão cheio de caos, tão complicado... e as vezes, só as vezes, eu realmente queria acabar com tudo... 
Me peguei pensando em quantas pessoas chorariam com real sinceridade em meu enterro, e no fim conclui que ninguém realmente sofre a falta do outro por muito tempo, infelizmente as pessoas não estão tão ligadas a este ponto, e isso me deprimiu, afinal, o que precisamos fazer para sermos especiais na vida dos outros? 
Inesquecíveis para o mundo?
Qual seria a fórmula da eternidade? 
E eu olho para um passado não tão distante e vejo o quanto me deixei levar, eu não me reconheço mais, estou cada vez mais distante do que já fui um dia, com meus conceitos perfeitos e com minhas escolhas intocáveis... por que me deixei corromper? Devia ter fugido quando ainda havia tempo... hoje é tarde e apenas quero dormir, em um sono profundo e tranquilo, um eterno sono de paz e sossego.
Hoje apenas vivo esperando um dia, quem sabe, ver as coisas melhorarem.

Antonie Scarmeloto

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

A PERDA DA AURA

O poeta precisa retratar um tempo 
que carece de significação.
As coisas lá fora nunca foram tão confusas.
Amanhã, talvez, haja revolução: mas já não é
mais nada. O novo emprego: apenas o próximo.
A nova retórica: lançamento feroz do mercado.
Irmão das sensações táteis e olfativas,
dos vícios e perdições, o vazio toma conta
das cabeças e dos bolsos. Meu coração
emudece diante das cifras
e o poder que elas têm.
Meu peito pergunta, em ardência,
A importância das questões últimas,
elementares, fundamentais,
para um sujeito de vida tão comportada,
tão na dele. Meses eram anos. 
Mas o tempo hoje, embora inacabável, é tão...
Insuficiente: a vida sempre no marca passo,
tateando a linha tênue entre
a realização - sempre efêmera
e a derrota - nunca transformadora.
Aquele autor que lemos ontem,
esqueça-o, meu amigo. Há outro melhor hoje.
E também o passeio que prometemos - lembra? - 
já não faz mais sentido.
Haverá, ainda,
a necessidade de se fazer planos?
Ou a possibilidade de realizá-los?
As respostas para a dor, nessa pós-utopia,
são complexas; logo, dão preguiça.
Parece ser mais fácil ficar aqui
Nas sensações táteis e olfativas
que embriagam por toda a vida
Um homo sapiens.

Rafael Cardoso


domingo, 15 de setembro de 2013

VIZINHOS

A casa em que mora meu ser
Anda cheia de vizinhos.
Eles se perguntam se vale a pena investir
em mais um jovem magro e tímido.
Sem contar que é indeciso.
Os meus vizinhos, quase não os vejo.
Aparecem de repente, digo-lhes palavras que 
com certeza não pensei.
A minha casa é rodeada de vizinhos
que não sei quem são, muito menos
se posso com eles contar por algum tempo.
Sabe, eles vivem se mudando...
Assim é difícil amizade.

Rafael Cardoso


sábado, 14 de setembro de 2013

DEPOIS

Antes de tudo, a noite.
Depois da maré, a manhã.
Teu coração não acorda
E já corre pelos vales
Tentando viver de novo.

Tardes no Sol, suor no rosto,
o gosto pelo ser, o pão que sacia.
Saudade: palavra que diz tudo.
O resto são adornos ao essencial.
Se perder no infinito das coisas,
que prazer! Dividido com todos
e contemplado bem discreto.
A tempestade, se vinha, era sinal
do Sol, já previsto após a maré.

Agora essa paz, que é mais marasmo
que satisfação, mais indiferença que
definição, essa paz me deixa tonto
depois de tanto e tudo.
Antes de mais nada, a noite.

Rafael Cardoso


domingo, 4 de agosto de 2013

Carcaça

Os meus dias estavam cada vez mais longos e cansativos. Eu ia para o trabalho de manhã e voltava ao anoitecer. Às vezes nem jantava e ia direto para a cama.
Eu não lia mais, não fazia sexo com ninguém, não assistia ao jornal. As pessoas me cumprimentavam e eu retribuía o aceno, mas era apenas por formalidade e não mais por educação. Meu cabelo era ensebado, os óculos que usava estavam quebrados e suas respectivas lentes riscadas. Eu não me importava.
Eu tinha perdido tudo. Não tinha moral, não tinha caráter, desejos ou amizades. Estava estagnado psicologicamente no tempo. Dias e noites já não faziam a menor diferença e tirar férias era o meu maior medo. E elas estavam vencidas há dois anos atrás.
E foi num longo dia de inverno que aconteceu. Eu estava sentado em uma cadeira que antes julgava ser a minha favorita, mas que agora se encontrava desprovida de qualquer significado. Minha casa estava toda empoeirada, meus peixes há muito haviam morrido de fome, contudo a morte deles era inevitável, pois o aquário também necessitava de limpeza geral, a qual não dispunha de vontade para fazê-la. Eu assistia a um filme de terror, mas não prestava qualquer atenção, tanto que não sabia nem quem era o protagonista da história. Foi nesse dia que pensei mais uma vez em você.
Eu a via sorrir ao correr pelo imenso parque de diversões. Você e sua mãe estavam magníficas naquele dia. Teddy, seu ursinho de pelúcia predileto, estava sendo prensado contra seu corpo devido à força excessiva de seu abraço. Ele não parava de exclamar “eu te amo!” toda vez que você o apertava daquele jeito. Sua mãe dava um leve sorriso ao admirá-la, para logo depois olhar em meus olhos. O brilho que havia neles também dizia “eu te amo”. Então, como mágica, essa memória borrou-se e desapareceu em seguida. Outra surgiu no lugar.
Um choro de criança. Era você nascendo. Parto normal.
Vomitei todo o meu almoço naquele dia. Porém pude presenciar cada momento do seu nascimento, desde quando saiu a sua minúscula cabecinha até o seu corpo sair por completo. O pé direito foi o último a retirar-se do corpo de sua mãe. Eu ria, eu chorava... Gostaria de quebrar o vidro de tanta ansiedade ao vê-la chorando no berçário. Mas agora tudo se foi. Para sempre.
Outra lembrança. Era um dia quente de verão e fazia cerca de quarenta graus no interior do carro. Todos estavam felizes, mesmo na presença do forte calor. Meu chefe tinha antecipado minhas férias e pude fazer uma viagem com vocês para o interior de São Paulo. A viagem foi tranquila e você dormiu a maior parte do tempo. Teddy cuidou de você enquanto dormia.
Ao chegar ao destino planejado, você e sua mãe desceram do automóvel e me aguardaram na sombra enquanto eu manobrava o carro para estacioná-lo na minúscula vaga em frente a uma casa amarela. Então, após alguns retoques nos cabelos bagunçados pelo vento da estrada, apertamos a campainha da casa dos seus avós. Fomos-nos muito bem recebidos por eles. Você ganhou vários presentes, tanto que foi difícil guardá-los dentro do porta-malas. Depois de três dias, nos despedimos deles e voltamos para casa. O acidente ocorreu logo após de deixarmos para trás a cidadela onde seus avós moravam. Foi neste acidente que você e sua mãe morreram.
Eu gostaria de poder tê-las salvo, mesmo que tivesse que dar minha vida em troca, contudo eu fiquei inconsciente com a batida. Fraturei três costelas, perdi um rim e tive que amputar minha perna direita, a qual foi espremida no impacto. Mas a maior dor foi a que senti no enterro. Eu perdi tudo naquele momento.
Toda minha vida se esvaiu, transformando-se na carcaça que sou hoje.
Depois do choque que sempre levo ao lembrar tudo de novo pela milésima vez eu levanto e caminho a passos lentos em direção ao banheiro. Começo a tossir.
A dor que sinto dilacera meu pulmão, mas não abranda a desolação que só cresce no meu coração. Meus cabelos caem por cima de meu rosto ao arquear-me em frente a pia do banheiro. Levanto e reparo na silhueta pálida e enrugada que aparece no espelho. Tusso novamente e uma gosma acinzentada escorre pela pia. Viscosa, demora para ser engolida pelo ralo. Pela terceira vez olho no espelho. Com espanto, vejo a mesma gosma sair pelo meu nariz, pelos ouvidos e pelos lábios enquanto através da pálpebra inferior de ambos os olhos, o mesmo líquido desponta. Então tusso novamente, mas não é uma tosse qualquer. O líquido da minha boca esguicha sobre o espelho na forma de vômito sujando-o, corrompendo-o.
Sem que eu notasse toda a gosma se junta formando um grumo que alcança a borda da pia.  De súbito, o grumo começa a levitar até atingir a altura de meus olhos, no formato de uma bola maciça. Já não dá para ver o espelho.
A bola cinza me engole. Não dá para ver mais nada. O desespero se apodera de meu ser.
Então, repentinamente, não sinto mais nada.

Lucas de Figueiredo


quarta-feira, 31 de julho de 2013

O Amanhã

O horizonte parece ser muito belo hoje. Eu gostaria de admirá-lo com você.
Lembro-me de sua face sorridente, seus cabelos ao vento e seus olhos ao fitar os meus. Havia um brilho vital ali tão forte que era contagioso, magnífico, milagroso. E talvez ainda exista, contudo, não posso enxergá-los mais. Não posso te sentir mais.
Esse foi um tempo bom, daqueles que a gente fica com muitas saudades e torcendo para que se repita. Eu ainda faço aquele mesmo caminho, todo dia, só para remoer as boas lembranças, no intuito de espremer a saudade que pulsa em meu peito para, em seguida, entorná-la boca abaixo e sentir seu gosto ácido. Corrosivo.
As árvores continuam no mesmo lugar, enquanto o vento continua a soprar na força de uma leve brisa, acariciando as folhas, novas e brilhosas nessa época do ano, onde o sol brilha com intensidade. Um sol caloroso, chamativo. O dia está perfeito para um piquenique, aquele que eu nunca pude contemplar com sua esplendorosa presença. Eu sinto saudades de tudo isso, inclusive dos momentos que não vivi.
Relembro-me de sua silhueta e a sua voz acolhe minha memória. Sorrio sem motivo, um sorriso vazio, pois a alegria presente neste se foi.
Para sempre.
Eu grito seu nome, sonho contigo e entro em desespero frequentemente. Imagino-a por ai, mostrando aquele sorriso para outro alguém, uma pessoa que, provavelmente gosta de você muito mais do que eu pude gostar. Um ser que realmente te valorize, que a engrandeça, que a ame. Eu sinto sua falta, tenho satisfação por saber que estás bem, mas não consigo sentir-me agradável nessa situação.
E tudo isso for por medo. Medo de viver, medo de ser abandonado assim como várias e várias pessoas com quem convivi. Alianças rolando no chão ao perder o sentido para qual foram feitas, jogadas em um abismo tão medonho e profundo por mãos que não se unem mais. Eu tive medo de ser largado no canto escuro de uma sala minúscula, a esperar por um mínimo de atenção ou um resquício real das lembranças do passado. A fantasia de que melhores momentos virão ainda aflora na mente, porém a esperança já se encontra muito longe daqui. Longe demais para que eu possa alcançá-la.
Por medo do abandono, eu abandonei. Eu feri quem eu menos gostaria de machucar. Eu sofro por isso, contudo, esse sofrimento é mais amargo por acompanhar a solidão que me assola.
E então eu me pergunto: para onde a felicidade foi? E uma resposta, mesmo inconclusiva e desconexa, se distingue dos demais pensamentos: talvez, para você, não exista mais o amanhã.

Lucas de Figueiredo

terça-feira, 30 de julho de 2013

O que?

Estou com vontade de escrever, só não sei o que
ando sentindo vontade de muitas coisas
coisas estas completamente indefinidas
completamente estranhas
ando tendo sonhos que não sei dizer o que
e ando querendo, só não sei o que.
Ando tendo pensamentos confusos,
sentimentos confusos,
tudo anda muito confuso,
só não sei porque .
A verdade é que ando com vontade de escrever
só não sei o que, por que, quando ou onde
então me sento e ponho a escrever
só não sei no que
no que isso pode vir a dar
meras palavras ao vento
cheias de significados vazios
de sentidos complexos
e de pensamentos adversos.
Não tenho mais certeza de nada,
não ando mais pensando em nada,
questionando, filosofando, escolhendo, mudando
tudo isso é muito cansativo e eu não quero mais
só ando querendo escrever
só não sei o que.
Tanto para se dizer, tão pouco para se fazer.


Jéssica Curto


segunda-feira, 29 de julho de 2013

A.R.

Por entre meus dedos
Passando pela minha mente
Fluindo entre meus ossos
Cortando minha pele
Entrando nos meus pulmões
Queimando meus olhos
Arrepiando meus pelos
O que você é?
A.R., como A.R.
Feita de A.R.
Construída de ar
O que eu preciso?
A.R., A.R., A.R.
Agora você sente?
Agora você toca
Cada parte interna
Nas partes celulares
Dentro do meu peito
Nas minhas loucuras
Em volta de mim
Amor Racional 
Você é frio 
Mas eu te faço quente
Amor Racional
Você me ama e desafia
Amor Racional
Eu sou seu enigma 
Eu sou sua cobaia
O que você precisa de mim?
O quanto você precisa?

Leonardo Ragacini

domingo, 28 de julho de 2013

Paineiras

Envolvido por folhas de Paina
retornam minhas lembranças
Sorrisos, brincadeiras e danças.

Envolvido por flores de Paina
renascem meus desejos
Uma pessoa e mil medos.

Envolvido por frutos de Paina
murcham minhas esperanças
Engrandecem as distâncias.

Paineiras persistem na memória
Caem folhas, flores e frutos
Primavera, verão, outono, inverno
A vida é dos astutos

Eu quero retornar no tempo
Vê-lo novamente nas painas
Rever conversas e piadas
Sentir vontades insanas

Mas nada muda, tudo muda.

Um milhão de palavras
Desprovidas de voz
Milhares de fantasias
Perambulando na mente

Memórias vívidas passadas
esquecidas e relembradas
Devem ser apagadas
no frio da Solidão

Mas o passado se aproxima
e não permite olvidar
Amor arbóreo de Paina
Se faz relembrar.

Lucas de Figueiredo


quinta-feira, 25 de julho de 2013

Estrutura solitária

Viver sozinho não é algo tão simples quanto eu esperava. Durante anos sobrevivi sem amparo físico ou psicológico algum. Eu vivia razoavelmente bem, sem grandes problemas ou preocupações, bem como solucionei problemas que não eram meus, pois não precisava solucionar nada dentro de mim. Os dias passavam normalmente, enquanto eu permanecia forte e imune aos sentimentos destrutivos existentes na minha espécie. Contudo eu não percebi que, no meio desse plano de vida, eu acabei por me diferenciar e me transformei em algo não humano, não natural.
Tornei minha vida sintética, simplifiquei minhas emoções, projetei máscaras e falsos objetivos necessários à manutenção de vida.  Aos poucos, meus espinhos foram aparecendo na mesma proporção em que minha paciência e compaixão se esvaiam. Não me tornei selvagem, mas também não era mais capaz de agir e pensar de maneira racional. Minha voz foi sumindo e meus ouvidos cresceram, enquanto meus olhos focaram-se em outras características. As pessoas à minha volta começaram a existir parcialmente em minha memória, essa última somente acionada quando precisava alimentar-me de humanidade, nutriente básico para a manutenção do meu estilo de vida. Sonhos foram sublimados, lembranças ruins deixaram de ser esquecidas, assim como as boas eram tão remoídas que se tornavam praticamente físicas, direcionando minhas ações e pensamentos. Embora meus movimentos não tenham se tornado mecânicos, minha mente era mecanizada pouco a pouco, à medida que meus sonhos e desejos deixavam de existir. Por fora, era inabalável ao ponto de ninguém conseguir ameaçar meu núcleo debilitado, não só por não possuírem força suficiente, mas também porque não conseguiam enxergar qualquer falha na armadura espinhenta que me cercava. Toda dor externa disponível era absorvida pelo meu corpo e neutralizada em seguida, pois meu interior necessitava de treinamento para tornar-se ligeiramente forte e curar qualquer ferida que pudesse trespassar a carapaça numa situação real. Até então, tudo estava perfeitamente equilibrado. Os ganhos e custos eram balanceados.
Porém, havia uma leve brecha em toda essa estrutura interna. Meu caráter era necessário para a manutenção desse modo de vida, todavia ele era, do mesmo modo, o responsável por causar certo dano ao ativar as lembranças mais amorosas e ao produzir sentimentos e relações de amizade com certas pessoas. Esse caráter, que implorava para que o emocional ganhasse mais espaço e perdoava qualquer magoa proveniente de algumas pessoas, gerou um espaço no qual meu corpo não tinha quaisquer formas de controle. Uma pequena bomba se instalou ali e foi programada para detonar a qualquer instante.
Foi então que aconteceu.
Minha carapaça de espinhos começou a machucar as pessoas que meu caráter lutava a favor. Com isso, o estímulo necessário à detonação da bomba foi cedido e a explosão interna gerou o caos, alimentado pela dúvida: Curar-se ou reparar os danos causados nas outras pessoas? Então a dor foi criada e fluiu por todo o meu corpo, desestruturando todo o sistema ao gerar danos de dentro para fora...
O resultado disso tudo apareceu na forma de corrosão devido aos sentimentos de culpa e desapontamento que surgiram dali. E então, no meio do desastre, eu aprendi.
Pessoas são as verdadeiras fontes, capazes de gerar espontaneamente e em grande quantidade a humanidade que eu lutava para produzir sinteticamente. Eliminando-as eu institui um inverno permanente dentro de minha mente e então, confortavelmente, entrei em estado de hibernação diante do clima frio e hostil de meu próprio pensamento... Desta forma, meu corpo se adaptou em toda a estrutura que criei e assim eu vivi por um bom tempo. Mas os recursos começaram a escassear e a armação se desfez. Assim, morri por inanição. Nos últimos instantes eu pude entender o que estava acontecendo, mas os danos foram irreparáveis.
Consequentemente, a tristeza me raptou para o mundo dos mortos, deixando apenas marcas de sangue e miolos nas paredes de meu quarto ao projetar-se contra mim na forma de um projétil de revólver, sustentado pela minha própria mão.

Lucas de Figueiredo


quarta-feira, 24 de julho de 2013

Dessa relação

Eu sempre fui livre
Livre para ser eu mesmo
Eu nunca me importei
Em ser sozinho
E ter sempre minhas peças
Soltas para serem montadas
Mas agora é diferente
Você mudou o jogo
E eu gostei da forma
Que você me deixa triste
Quando me deixa sozinho
Eu gosto de me sentir vazio
Quando você não está perto
Eu gosto
De me perder em romantismo
E beber um pouco dessa relação
Porque isso me faz ver o sol na chuva
O começo antes do término
A luz antes de escurecer
Eu não preciso estar sozinho pra ser feliz
Eu não preciso ter alguém pra ser completo
Mas eu sei que quero te amar pra sempre
Até que meu coração se quebre
Não importa o que vem
Não importa o que aconteça
Eu continuo gostando disso
Apaixonado por você de novo
A cada briga imbecil
A cada sorriso idiota
A cada cena hilária
A cada crise
Até o além do infinito
De trás para frente
De baixo para cima
Não importa o que aconteça
Eu continuo gostando disso
Apaixonado por você
Você mudou o jogo
E eu gostei da forma
Que você me deixa triste
Quando me deixa sozinho
Eu gosto de me sentir vazio
Quando você não está perto
Eu gosto
De me perder em romantismo
E beber um pouco dessa relação.

Leonardo Ragacini

terça-feira, 23 de julho de 2013

Novo tempo

Eu estive fora por muito tempo
Eu mudei partes em mim
Mas todo esse tempo
você esteve olhando dentro de mim
E isso é tão familiar
O tempo não pode mudar
as coisas que eu sinto
A nossa história que não passou
É uma nova vida e uma nova pessoa
Mas essas lembranças não querem morrer
E toda vez que me vejo sem você
Toda noite que estou rumo
Entre queimar e te perder
É quase um instinto
Eu começo a voltar ao passado
todo o tempo
Eu vejo tudo o que éramos
Penso em tudo que ainda somos
Mas as coisas não estão fáceis
Eu tenho um novo plano
E uma nova identidade
Mas como é lindo e fácil
Embarcar nessas ilusões com você
Eu poderia largar todo esse jogo
E comandar esse barco de volta
Ao lugar de onde é de verdade
Mas sempre que começo a pensar
Eu volto para os erros
Que ainda não foram cobrados
E por toda minha vida
E por todo infinito
Eu queria ter um momento
Para fazer tudo voltar
Ao que era antes
De não existir mais...

Leonardo Ragacini

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Real pra mim

Um novo dia está chegando
Eu abro meus olhos e te vejo
Exatamente onde devia estar
Eu preciso dizer o quanto te amo
Porque isso parece um sonho
Mas o ponto disso é real
E não tem nada que me faça
Querer mais abrir o meu coração
Do que o fato de ser você
Você sabe por quê?
Estou feliz agora
Porque eu te amo
Você sabe por quê?
Eu te amo agora
Porque você faz
Todo universo
Um lugar real pra mim
Não existe um dia
Que o seu brilho não me aqueça
Eu sei que muito se diz
Sobre sentimentos e amor
Sobre sonhos e verso
Mas o que falo, meu amor
É sobre entender o que vejo
E se isso não for real
Então não teria graça
Porque eu tenho você
Do meu lado agora
E não existe nada
Nada que não faça
Para que isso continue
Como sempre deve estar
Porque você me ama
E isso basta
Pra me fazer real.

Leonardo Ragacini


domingo, 21 de julho de 2013

Viver intensamente

Vive-se sem se viver de verdade, intensa e loucamente, vive-se na expectativa e no medo da mudança, na espera de uma oportunidade, na sombra da felicidade, sem nunca de fato viver...
O ser humano sofre e se tortura todos os dias, e pra que? E por que? 
Não sei dizer, não quero saber, apenas quero viver... O pouco que ainda me resta, intensamente.

Jéssica Curto


sábado, 20 de julho de 2013

O DISCURSO DOMINANTE

Mas como será possível
ocupar o espaço desse modelo?
Nas salas de jantar, no cafezinho,
No pensamento dos transeuntes
está um ideal implícito
e condicionado, tido como natural.
O discurso torna-se lógica inerente
A todas as coisas e constrói o social.
Ele penetra, surdamente, nos cantos
mais remotos da singularidade, e 
restringe as ações a formas previstas.
Técnico e imponente, o discurso 
empurra para o lado as outras estratégias de
vida, as inúmeras possibilidades da existência.
Estranhamente criticado, ele se reforça a cada
dia, até que se diga ser impossível voltar. 
Marginais: aqueles incapazes de
funcionar na lógica do discurso. Os inaptos a serem sociais.
Amigos,
Essa resposta que damos à vida não é a única,
muito menos a melhor,
é tão somente uma sedutora alternativa,
que nos leva, inebriantemente,
à trilha da perdição.

Rafael Cardoso

sexta-feira, 19 de julho de 2013

O Corpo & A Alma

Para mim é tudo muito estranho, afinal, não conheço absolutamente nada sobre esta vida e este planeta.
Tudo se torna novo e diferente e estou agora pensando em como levantar desta cama tão confortável sem me sentir culpada.
O fato é que esta vida não parece muito animada, primeiro que se levanta cedo demais para se ter tempo de se arrumar e conseguir sair no horário sem se preocupar em ter de correr com todas as preparações do serviço.
Aliás está ai outra coisa curiosa, o dia se resume em colocar ordem na escola, levar os alunos doentes para a enfermaria, estar disponível sempre que algum professor venha a necessitar e quando se pensar em sentar, já é a hora do almoço.
Doce hora do almoço, há! Uma grande piada, isto sim. Uma comida requentada dentro de um pote nunca foi muito prazerosa, no entanto, pelo menos há de ser gostosa e de fato o é, comida da mãe deste ser em que me apossei, pelo menos algo de bom, mas não pense que é duradouro, uma hora passa mais rápido do que o imaginado e quando se vê, volta-se tudo outra vez.
Isso todos os dias, se segunda a sexta, até as quatro da tarde, depois vai-se para casa e descansa-se um pouco para o dia seguinte, não esquecendo de que é preciso fazer a leitura diária para que o corpo não fique com peso na consciência.
Aos finais de semana não pense que há grande diversão, mas é mais tranquilo com passeios calmos em museus ou em shoppings, o corpo conquistou bons amigos, o que faz toda a diferença para renovar as energias para a semana seguinte.
No fim aprende-se todo dia um pouco mais, provavelmente porque no meio da rotina ela simplesmente não exista.

Jéssica Curto

quinta-feira, 18 de julho de 2013

O Chá da Tarde

Cena 1

Darwin - Cavalheiro, uma xícara de chá por gentileza.

Garçom - É pra já senhor!

Cleópatra - Me perdoe o atraso querido, o trânsito lá fora está uma loucura!

Darwin - Sem problemas, estava aqui refletindo sobre a teoria da evolução.

Cleópatra - Teoria do que?

Darwin - Teoria da evolução, minha querida, todas as criaturas evoluem, nós, por exemplo, somos primos dos macacos.
O livro vai ser lançado mês que vem, a editora disse que tem tudo para ser um grande Best Seller!

Cleópatra - Opa, opa, opa! Você está me chamando de macaca? Você por um acaso sabe com quem está falando? Eu, queridinho, sou a DEUSA do Egito! Me respeite!

Darwin - Me perdoe se eu a ofendi senhorita, esta não era a minha intenção...

Cleópatra - E você acha que está arrasando com essa sua barba de milênios não é? Parece um macaco, isso sim.
Olha aqui, eu governo o Egito há gerações, já lancei a minha biografia e vendi milhões, todos me idolatram!
Quando você chegar aos meus pés, então talvez possamos conversar novamente...

Darwin - Papéis duram poucos anos, teorias são para sempre. Você comanda seu povo com inverdades, não passa de uma salafrária mentirosa!

Cleópatra - Como ousa...??

Darwin - É sim, acha que não sei que engana seu povo dizendo ser uma deusa, quando na verdade fica medindo o Rio Nilo para saber quando a água vai estar baixa ou alta?

Cleópatra - Pra mim chega, eu sou o Sol que ilumina os mortais, a Terra que trás alimento, a Lua que guia a noite, não preciso ficar aqui ouvindo isso.

Darwin - Também existem teorias sobre tudo isso, só para a sua informação, madame.

Cleópatra - Pra mim basta!

Darwin - São apenas fatos, e somente eles sobram diante a ciência, boa tarde!

Jéssica Curto

Agradecimentos a Leonardo Ragacini, que foi a grande inspiração para este.


quarta-feira, 17 de julho de 2013

Colégio

Cena 1

Marco- Você checou tudo?

- Chequei, eu já te disse isso.

Marco-Não, você não ta entendendo, se algo der errado...

- Não vai dar nada errado.

Marco- Eu sei, eu sei, mas é que...

- Cara, relaxa!

Marco- Ok, eu só to preocupado, só isso.

- É eu to vendo, mas não tem com o que se preocupar, vai ser mamão com açúcar.

Marco- Então por que você fica olhando tanto pra trás?

- Sei lá... Eu não to olhando não.

Marco- Ta sim! Cara... Cadê ele?

- Já disse pra relaxar, ele já deve ta chegando.

Marco- Você sabe que isso é o meu sustento né?

Um homem engravatado e misterioso aparece.

Homem engravatado - Opa, beleza?

Marco - Fala cara, tu ta com tudo certo né?

- Que saco! Já falei pra relaxar!

Homem engravatado- Meu não tem erro, depois que todo mundo for embora e a escola fechar a gente entra e...

Um aluno gordo e desengonçado passa por eles, todos se calam.

Aluno- Boa noite.

Todos: Opa, boa noite!

O aluno se vai.

Marco para Zé- Já falei pra parar de olhar pra trás, depois eu que to nervoso.

Homem misterioso- Olha, o esquema é o seguinte, façam tudo rápido, se algo der errado a gente vaza, beleza?

Marco e Zé- Beleza!

Marco- A chave do cofre fica na direção, do lado da porta, ta destrancada, só não deixa ninguém te ver.

Homem misterioso- Beleza.

Homem misterioso some dentro da escola

- Ta frio pra caramba hoje meu.

Marco- Ta e eu não to com um bom pressentimento.

Homem misterioso volta

Marco- O que houve?

Homem misterioso- Não deu, tem muita gente lá.

- E agora?

Marco- Da pra parar de olhar?

- Me faz parar!

Homem misterioso- Chega vocês dois! Zé, eu vou te dar a arma e vou entrar, você fica com o Marco até ele fechar a escola, eu vou tentar pegar essa chave e me esconder em algum banheiro.

- Beleza.

O homem misterioso tira uma arma da cintura e coloca dentro da mochila do Zé discretamente, logo em seguida entra na escola.
Zé acende um cigarro.

- Você quer um? Ajuda a acalmar.

Marco- Não cara, valeu.

Marco coça a nuca

Marco- Larguei já tem dois anos.

- Agora é esperar...

Marco- Agora é esperar...

- Você vai entrar pro grupo, depois dessa noite todo mundo vai te aprovar, tu vai poder largar essa bosta de emprego.

Marco- Não fala assim Zé.

Marco fica cabisbaixo olhando para o rádio de comunicação.

Marco- Meu pai era segurança, ele que me ensinou tudo o que eu sei, estaria desapontado comigo agora...

Um homem musculoso, tatuado e de cabelo raspado se aproxima de Zé e Marco.

Marco- Você ta fumando maconha? Você é louco?

Tatuado- Só uns pega meu, não enche, me ajuda a acalmar os nervos.

- E esses alunos, quando vão embora hein Marco?

Marco- Daqui a pouco... Para de olhar pra trás porra!

Tatuado- Calma mano, relaxa.

- Viu? Pelo menos eu fumo cigarro normal.

Marco- É melhor vocês sumirem um pouco, pode sujar pro meu lado, alguém pode desconfiar...

Tatuado- Eu não vou a lugar nenhum!

- Eu também não, até parece andar por ai com a arma do Celso, ele me mata!

Tatuado- Relaxa menininha, você quer mesmo ser aceito? Regra número um, pare de ser medroso!

Marco- É que é o sustento da minha família...

Tatuado- Tua família vai viver no bem bom a partir de agora, pensa nisso. Você não quer dar um ensino de qualidade pra sua garotinha?

Marco- Claro meu, é o que eu mais quero!

- Então tem que se acalmar.

Marco- É vocês tem razão, eu to preocupado atoa...

- É meu, é sério, vai ser muito mole, vai por mim...

Marco- Ta, ta...

Tatuado- Que tal você acelerar esse processo hein guardinha? Ta muita demora...

Um garoto magricela e alto se aproxima do grupo.

Garoto- Opa!

Marco- Luiz? O que você ta fazendo aqui?

Luiz- Ué, achou mesmo que eu ia perder isso?

Marco- Meu não era pro Luiz ta aqui, droga! Vocês não estão cumprindo o acordo.

- Ta tudo certo, para de causar.

Marco- Não! Não era esse o trato, o Luiz tava fora disso, vocês prometeram!

Tatuado- Sabe essa cicatriz que eu tenho nas costas? Então, foi o Celso... Você não vai querer ganhar uma igual, melhor parar, vai por mim...

Homem baixinho e gorducho aparece comendo um lanche.

Baixinho- E aí Luiz, beleza?

Marco- Porra Denis, tu sabia? Meu não era pro Luiz ta no meio.

- Aff... Você não se acalma, não é?

Luiz- Tu é muito egoísta meu.

Marco- Não, vocês não estão vendo o meu lado, eu...

Ouve-se um tiro, pessoas começam a correr e a gritar.

Continua...

Jéssica Curto

terça-feira, 16 de julho de 2013

Amor verdadeiro

É lindo, e é lógico que eu me sinto atraída, mas não é amor...
Na verdade o amor, puramente dito, aquele que enlouquece a mente, estoura o coração, faz as mãos suarem e a boca gaguejar, aquele amor de contos de fadas, eu realmente não acredito que exista.
Não, eu posso viver sem você, eu só não quero.
Eu te amo, amo no meu entendimento mais puro e sincero, quero o seu melhor e a sua felicidade está acima de qualquer coisa para mim, eu faria o que preciso fosse para me vingar se alguém te machucasse... já provei, por mais de uma vez com a fúria que me dominou, a raiva que transpareceu em meus olhos, daquelas que não souberam te valorizar, enquanto eu, do lado de cá, sofria em silêncio, inconformada com esta afronta alheia enquanto desejava apenas um simples beijo.
Eu te amo e por mais de uma vez já quis lhe contar, mas falta-me coragem, não apenas de revelar, mas de não ser aceita, das coisas simplesmente mudarem, e correr o risco de perdê-lo seria inadmissível... por isso sofro na espera de ter um beijo roubado, um afago assanhado ou um simples eu te amo.
Olho para os outros e não vou mentir e dizer que não me sinto atraída, que meus pensamentos maliciosos não viajam às vezes, mas não é amor,longe de ser.
A química que percorre o meu sangue percorre no de todos, então não me julgue por isto por favor, eu sou apenas um ser humano como qualquer outro, mas isto não me faz ignorar meus sentimentos.
Oportunidades, por mais de uma vez, foram jogadas ao vento por não serem o que desejava...
Então, apenas tenha a plena certeza de que, ele pode ser lindo, mas jamais me fará sentir o que sinto, quando te olho e te faço sorrir, enchendo o meu coração de felicidade, porque ele pode ser qualquer coisa neste mundo, mas jamais poderá me fazer feliz do jeito que você me faz, porque ele nunca será o meu bem mais precioso, a pedra mais rara da minha vida, ele nunca será... Você!
Meu amor, minha vida, meu LAR.

Maria Amélia


segunda-feira, 15 de julho de 2013

Eu me sinto tão sozinho

Eu me sinto tão sozinho
E você não parece se importar
Está por dentro dos meus olhos
Abraçando a minha alma
Esse sentimento me estrangula
Aperta a garganta um pouco mais
Mas não parece o suficiente
Você espera palavras
Mas não quero palavras
Você espera razões
Mas não quero razões
Você espera motivos
Mas não quero motivos
Eu só quero não ficar sozinho
Só quero não ficar triste
Porque todas as noites
A alegria de te ter me deixa
E todas as lembranças voltam
Eu me sinto tão infantil
Mas quero um abraço
Eu me sinto tão sozinho
E você não parece se importar
Não quero saber de palavras
Não quero entender situações
Quero apenas sentir um aperto forte
Entre os meus braços
Mas não é possível
Não quero ser comportado
Eu não quero entender nada
Quero abrir os lábios e gritar
Quero sair voando sem minhas asas
Quero atingir o chão com força
Se isso te fizer me ouvir
Se isso te fizer me entender
Que no fundo é solidão de amor
A pior de todas que existe
Porque eu estou sozinho
Eu me sinto tão sozinho
E você não parece se importar
Como eu me sinto assim
Porque se pra você
Tudo está bem
As peças pra mim
Não se encaixam
Eu me sinto perdido
E você não parece ver
Eu me sinto tão sozinho
Eu me sinto tão sozinho.

Leonardo Ragacini

domingo, 14 de julho de 2013

Cotidiano

Em muitos momentos do cotidiano, 
tenho me sentido sozinha 
e a estrada da vida me parece cada vez mais vazia, 
sem cor, sem flores, sem vozes e cantos, 
sem  vida, enfim.

 E nela só percebo a mesma velha poeira
 que me encobre e faz arder os olhos, 
que volta e meia se levanta e se abaixa,
 mas que sempre me cega em 
qualquer um dos movimentos...
 A mesma poeira da rotina 
que me faz por vezes chorar.

 Sinto-me sozinha, de novo e de novo... 
e de velho também,  se assim posso dizer.
De velhos dos tempos e 
de velhas lembranças apagadas 
e também empoeiradas, 
na minha mente tão ocupada de teorias 
e tão vazia de sonhos.

Porém sinceramente, 
Aos 20 outonos da vida, 
Ainda acho bobagem essencial
sonhar com a primavera... bobagem,
Ainda mais quando se há de lutar bravamente
para sobreviver  ao inverno que todo ano 
de nós pobres, rouba as energias internas para 
Dissipar o inútil das máquinas, mas vital: calor valor.

N. Bonani


sábado, 13 de julho de 2013

Tempestade

Às vezes precisamos compreender
Que grandes amizades foram perdidas 
Durante as turbulentas tempestades,
e que não há mais corpo para se recuperar
Quando o mar já está novamente sereno.

É nesse momento dinâmico e único,
que sentimos a imensa tristeza
de não termos, no breve pretérito,
 nos afogado na imensidão azul escura.

Há um mundo inteiro desabando,
assim que pisamos conscientemente em terra firme
Mas a única coisa que sentes que já desmoronou
Foi seu coração. 

Não há mais amigo para escutar ou 
te buscar em algum lugar nos escombros... 

E quando finalmente consegue se erguer,
Pela força que só a esperança ingênua dá,
 já não pode ver a própria alma diante de tudo que já viveu.

N. Bonani


sexta-feira, 12 de julho de 2013

Águas de Janeiro

2013

Minha vida é chuva!
 É energia cinética 
desabando dos altos dos sonhos, 
Precipitando tristemente 
em lágrimas molhadas de realidade.

Meu corpo chuvoso mistura-se a sujeira 
das ruas impregnadas de gotas infinitas
 de preconceito, repressão, violência,
 mas também gotas de carinho, humor, 
felicidade... Amor?  
Altos de depressão.

 Gotas tomando e fazendo parte de minha vida,
 dissolvendo-se em meu cotidiano 
sem nenhuma permissão; 

E quando brilha o sol, 
eu sublimo em esperança,
mas se o sol persiste 
me perturbo em tempestade
E precipito novamente... 
Onde estão as outras partes de mim?

E eu e tu e todos fluem e 
se misturam;  se mesclam também 
os bons e ruins sentimentos...  
Agora somos todos gotas turvas.

E eu nunca quis ser todos,
 Queria ser apenas “eu”, e
“Eu” pode ser qualquer um, 
basta mudar o falante que fala de si próprio...
-Mas “eu” não quer ser um qualquer!  
-Você entende? 
-Talvez “Eu” entenderia se não estive tão turvo.

N. Bonani


quinta-feira, 11 de julho de 2013

Inquietos

2011

Não resisto mais 
a tanto terror nas cidades
Todos são hipocritamente sábios
Mais escorregam em omissão pelo egoísmo

Os livros tremem freneticamente
Nas prateleiras empoeiradas,
os escritos não resistem mais ao 
desejo de espalharem seus segredos pela
grande cidade perturbada.
Não podem ficar tanto tempo
Guardados e monopolizados...!

Quantas palavras foram deturpadas,
queimadas e modificadas
pelas chamas da ambição?

Olhem as cores nas frestas obscuras, 
Cacem como devoradores
Deleitem-se do saber!

O dia vai cair para nos salvar da
luz solar radioativa,  vai nos presentear
com um crepúsculo eterno que permanecerá 
para além do dia em que possamos olhar para o céu
o dia em que voaremos até queimar nossas asas de cera;
 e não decairemos como anjos que negaram obediência 
as leis  da velha perspectiva humana de universo.

N. Bonani


quarta-feira, 10 de julho de 2013

Paradigma das mudanças

Porque agora o corpo estremece,
mas não é por falta de abraços que ele adoece,
e sim pelas pressões da vida...
tão rápida e tão querida
(Que o valor da sabedoria, ensinou a cultivar).

Porque agora a cabeça enlouquece,
mas não é por aquela constante prece,
e sim pelo ceticismo que me acompanha 
em qualquer lugar dessa cidade estranha.

Porque agora o coração pulsa mais forte,
 não esperando do destino a Sorte,
mas sim pela corrida para o dia aproveitar.

Porque a insônia agora é frequente,
não pelo amor que em mim é ausente,
mas sim pelas dúvidas que vivo a carregar
do futuro incerto que não suporto esperar.

As sensações são as mesmas,
os motivos não são. 
A única coisa que permanece inalterável
é a nostalgia daquela velha canção.

N. Bonani


terça-feira, 9 de julho de 2013

Nublado

Um dia cinza e levianamente sem fim...
Que me encanta com a maneira
De ter o bom senso de amanhecer assim.

Obrigada querido Dia
por resplandecer da cor que eu queria;
Porque só com uma paisagem de pálida cor
eu posso ser capaz de esquecer este estúpido amor.

O tic-tac do relógio
E o som de sua chuva lá fora
Fazem o ritmo dá canção
Que vem sem palavras e vai embora.

Mas um dia, meu bom Dia,
o meu dia será laranja como seu fim.
Mas o que pode lembrar essa cor,
além de flores no jardim...?


Desculpe-me querido Dia,
mas hoje não desejo você;
mesmo cinza pálido e belo,
prefiro em minha cama
mais um pouco "morrer"...

N. Bonani


segunda-feira, 8 de julho de 2013

Solidão

2009

Olá, Solidão.
Há tanto tempo acompanha-me nos caminhos
E eu nunca sei como está...

Mas sei que sempre está
Constantemente em minhas partidas,
Tão constante que se tornou amiga,
A mais vazia e presente que tenho...

Andei pela chuva, no meio da rua
E você estava ali,
 tornando-me tão você
Que eu sentia-me só... 
Sentia-me solidão. 

E a chuva nos uniu,
 Numa dança resplandecente...
 Eu já não sabia mais como viver sem ti.
Naquele momento então senti 
 Que sem ti, já não mais eu seria
Já não existiria e seria mais vazia
que você sem mim. 
Porque somos cúmplices
De mundos iguais e distantes.

Minha tão presente Solidão...
Sua presença,
É minha ausência;
Sua indiferença 
É minha compaixão
Porque sua companhia
 É o meu vazio
Porque o seu você,
 É o meu por quê.
Porque tu és amiga, 
Mas por que solidão?

N. Bonani


domingo, 7 de julho de 2013

It’s over

A última magia decaiu.
O último encanto foi quebrado.
 A última dança foi aplaudida.
O espetáculo acabou.

Não há mais o que fazer... 
Apenas ir embora
Voltar à vida...
Sair do êxtase, que não deixava ver as verdadeiras faces

Sair desta alucinação circular fosforescente
Que encantava os olhos e 
Mantinha a falsa calma...
Segurava a mão, 
Enquanto deixava cair a alma!

A fumaça se expandiu, o amargo retornou
O sonho foi para seu próprio mundo, 
e me deixou sozinho no meu...

E todas as ilusões foram desmontadas, 
Mudaram para um longínquo lugar
Pouco a pouco, como num circo
Foram para outros se apresentar.

N. Bonani


sábado, 6 de julho de 2013

Não mais a mesma

Dos últimos versos não me recordo,
Nem da gramática fria...
-Não mais a mesma-
Dentro de mim: apenas uma sala
(Que permanece sempre vazia...)

Não tenho paciência contigo,
Não tenho vontade de sair
Recorde-me apenas:
Como se faz para sorrir?

Nunca quis tanto estar longe de mim,
Nunca desejei tanto te esquecer;
A dor sublime dos meus autoflagelos não conforta mais
Qual era a sensação de viver? 

Amor? Paixão? Alegria?
Palavras que não fazem mais sentido.
Sinônimos de lembranças vagas
De grandes momentos com 
um  velho am... igo.

N. Bonani