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quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Memória Escrita IV


E foi assim que tudo aconteceu. Você estava lá, tão dócil, tão fofo. O pôr-do-sol acontecendo e a noite que se aproximava. E foi ai que eu cheguei, assim como todas as noites, porém essa foi diferente. Eu não esperava por você. Eu não esperava ninguém.
Quando te vi, minha fome aliviou-se e finalmente eu pude enxergar teu rosto. Minhas asas retraíram-se e minhas garras, também. Doeu um pouco, mas foi bom, pois deste modo eu pude olhar em seus olhos e conhecê-lo pela primeira vez. Sua face triste revelou um pingo de alegria ao ver meu rosto. Isso foi o que me alimentou durante muito tempo. Ali a gente ficou durante horas, naquela fria noite de Natal e ali a gente conversou a beça, esquecendo do tempo e espaço.
E foi assim que me apaixonei por você. Seus lindos olhos olhando nos meus. Sua carnuda boca tocando a minha. Seu gostoso sangue misturando-se com o meu. Tudo foi perfeito, exceto o final.
Eu não percebi o dia e você também não. Os raios vieram e penetraram minha pele, assim como chegaram a sua. Nessa hora suas asas se revelaram e seu corpo brilhou. Como era lindo aquele brilho! Estaria tudo perfeito, se já não fosse tarde demais.
Então o Sol atingiu meu coração e tudo começou a queimar. Minhas mãos e pernas começaram a virar pó. Meus olhos explodiram e meu corpo se desfez. No final só restou você, perplexo ao notar meu corpo que agora ia com o vento, chegando a todos os lugares e não chegando a lugar nenhum.
Assim aconteceu a loucura mais doce. A Escuridão apaixonando-se pela Luz. Talvez seja por isso que exista a Aurora.

Mayuka Masaki

Lucas de Figueiredo


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