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sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Frustração

Era uma noite fria de inverno, o vento soprava forte do lado de fora da grande mansão, os galhos secos e quebradiços das arvores chacoalhavam fortemente e arranhavam as janelas, criando uma sensação aterrorizante.
Ele estava dentro da biblioteca imensa, repleta de prateleiras e livros gigantes empoeirados pelo tempo, a lareira estava acessa, crepitava o fogo que se queimava rapidamente.
As velas acesas davam um ar sombrio e aterrorizante, a sombra gigante dele andando de um lado para o outro, só ouvia-se os passos dele em cima do chão de madeira e o grande relógio cuco contando os segundos.
Tic tac, tic tac.
Ele estava ficando nervoso, a mão foi para dentro do bolso da calça, pegando o relógio de bolso e checando o horário, voltou a guardá-lo e olhou para o grande cuco para ver se não tinha nada de errado.
Tic tac, tic tac.
Aquilo estava estressando-o, ela já deveria ter chego ha mais de meia hora, mas ele não poderia perder a paciência, ela teria que se explicar, já passava da meia noite.
Tic tac, tic tac.
Ele ouviu cavalos ao longe vindos as pressas acompanhados de uma charrete, finalmente ela chegara, ele sentiu uma calmaria incondicional dentro de si. De repente tudo se silenciou, um vento forte invadiu a janela adentrando a biblioteca quando ele abriu a mesma para ver o que estava acontecendo do lado de fora. Não conseguiu ver nada, estava muito escuro lá fora e a neblina não ajudava muito.
Ouviu alguém batendo na porta da frente, devia ter esquecido de deixá-la aberta. Foi às pressas, passou a mão em uma lamparina para ajudar-lhe no caminho, ela ia ter que se explicar direitinho.
Já estava com a bronca na ponta da língua, quando ao abrir a porta não teve se quer tempo de falar qualquer coisa.
Viu um vulto e tudo se escureceu repentinamente. Uma gargalhada monstruosa adentrava os ouvidos dele e então sentiu seu corpo cair.
Fosse o que fosse, com certeza não era humano.
Sentiu uma dor inflamando na região do estomago e ao colocar a mão sentiu algo molhado e quente, estava sangrando.
-AAAAHHHH!!!!
Algo agarrou seu braço e estava lhe arrancando fora, puxando com uma força sobrenatural.
Não conseguia ver nada, estava tudo escuro demais, a lamparina tinha caído no chão e estava queimando a cortina da janela, colocando fogo na casa.
-POR FAVOR, PARE!!!
Ele só ouvia risadas monstruosas por todos os lados, estavam lhe comendo vivo, sentia corpos em cima de si, lhe puxando os membros por todos os lados.
Não tinha mais forças para berrar ou para pedir socorro.
Sentia um calor imenso irradiando o corpo, estava pegando fogo junto da casa, viu-se livre do que quer que fosse que estava lhe comendo, tentou se arrastar para fora, sentia dores irradiando por seu corpo todo.
Os olhos forçando uma visão, pouca que fosse.
E então viu a luz, lá estava ela, bela como sempre, com seus lindos cabelos dourados esvoaçando e seu sorriso de menina inocente com olhos juvenis.
Nada importava com ela na sua presença, os lábios automaticamente se abriram felizes e então a pancada foi certeira no meio da cabeça, fazendo-o cair no chão, mas os olhos se mantinham fixos nela e então ele viu o horror.
Em questão de segundos seu rosto se transfigurou em um monstro horrível, de dentes pontudos e gigantes, sua pele rósea estava verde e repleta de buracos, os olhos negros e obscuros.
Ele arregalou os olhos, não acreditava no que via, e então ela saltou em sua direção, lhe arrancou o coração com as mãos e com sua enorme boca escancarada o engoliu grotescamente.
Ele viu tudo como em um flash rápido e sem grandes detalhes, sentiu a respiração dela próxima ao seu rosto, dava para sentir o hálito de menta que tinha a boca dela, ergueu um pouco as costas do chão para se aproximar ainda mais dela, e então viu-a fazer, engolir em uma só bocada seu coração, estraçalhando-o por completo, sem lhe dar a chance de tentar se salvar.
Seu corpo perdeu as forças e ele caiu, lenta e vagarosamente, todo o resto de energia que lhe sobrara ate aquele instante, acabara de acabar, e tudo escureceu, uma noite sem estrelas, nuvens ou lua. Uma noite triste e inevitável.
Tudo simplesmente se apagou, como se nunca tivesse ocorrido, ele nada mais sentia, nada mais via ou ouvia, tudo passara a ser sem graça, e então ele percebeu a importância que ela tinha na vida dele, que sem ela ele era isso, ninguém no meio do nada.
E nada mais importava, tudo passou a ser irrelevante.
E pensando nos olhos brilhosos e encantadores que ela possuía ele apagou, agora, para todo o sempre.

FIM

J.H.C

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