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sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Perda



A estrada estava movimentada, os carros passavam a mil por hora, a brisa adentrava a janela e bagunçava meus cabelos, uma sensação de saudade passando por meu corpo, a falta de um passado que agora parecia tão longínquo e irreal.
Tudo voltava à tona na memória, e eu preferia esquecer, por isso amava meu trabalho, ele me fazia viajar para mundos distantes e diferentes, me permitindo juntar o que amava com o que gostaria que ocorresse.
Fechei os olhos por um instante, à imagem daquele sorriso tão perfeito e espontâneo que surgia em seus lábios quando me olhava fazia eu me sentir a pessoa mais fantástica do universo.
O mundo estava se modificando cada vez mais, e a pressa agora era algo que o homem tinha que aderir em seu ser, a guerra não nos deixa pensar, e por isso eu preferia a paz do meu mundo bonito, era como um quadro que eu poderia pintar e criar exatamente tudo que gostaria, as cores vivas, esquecendo do cinza ao qual vivia na realidade, era como uma válvula de escape e ao mesmo tempo uma aproximação daquilo que eu não poderia ter junto de mim nunca mais.
Voltei a observar a estrada, as pessoas possuíam suas vidas rotineiras sem pensar o quanto deveriam dar valor as mesmas.
Senti uma lágrima escorrer em meu rosto, mas a mão foi mais rápida e sumiu com ela dali, as lembranças deveriam ficar guardadas em uma caixa chamada coração e jamais serem expostas para o mundo, não poderia permitir que aquilo se estragasse com a podridão que existia em tudo.
''Eu te amo papai''
Risadas ao fundo vinham em minha memória, os olhos dela brilhantes e tão magicamente curiosos estavam agora sem vida, aquele ar de alegria jamais poderia ser visto pela humanidade novamente.
Meus dedos apertaram com mais força o volante, estavam gelados como meu coração se mantinha nos últimos tempos, engoli em seco, minha princesa me deixou, partiu sem permitir que eu me despedisse, segurando em minha mão como quem se despede com muito prazer de ter me conhecido.
O acidente fora horrível, uma bala perdida acertara a minha pequena princesa, uma briga entre gangues tinha causado uma perda irreparável.
Não tinha mais controle algum sobre minhas lágrimas, agora elas escorriam por meu rosto, terminando em meus lábios e me proporcionando um gostoso salgado na boca.
Para um pai, perder um filho é como perder uma parte de si, um buraco se abre no coração, você nunca mais consegue ser uma pessoa completa e feliz.
Estacionei o carro, meu rosto estava ensopado, os olhos completamente vermelhos, assim como a ponta do nariz.
A brisa continuava a bater em minha face, e tive a plena certeza que por mais que a saudade doa, o amor jamais permite que o adeus seja eterno, não, eu gosto de pensar como um até logo, e que em breve estarei novamente junto da minha pequena princesa.
Afinal, aqueles que nos amam, nunca nos deixam realmente.

J.H.C

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