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sexta-feira, 25 de março de 2011

Sobrevivendo ao acaso IV

Já estava achando absurdo toda aquela história.
Comecei a perceber que as ruas se mantinham vazias na maior parte do tempo, e as que não estavam ainda não tinham passado pela dedetização.
Reparei que muitas eram dedetizadas ao longo do dia, por vários carros como aquele, com astronautas e ajudantes. Resolvi ficar atrás de uma árvore observando o processo de um deles.
Estava parado em frente à pracinha ao qual eu me escondia, e vi que um ser grotescamente azul se encapuzava, era o tal astronauta dedetizador.
Ele tinha minúsculos olhos e uma imensa boca, seu nariz se restringia a dois pequenos furinhos.
Eles saíram do carro como normalmente faziam, percebi um cordão preso ao pescoço da ajudante e reparei que o fio descia pelas costas, dando o ar de ser um simples colar, mas para mim aquilo era apenas uma roupa para se passar por ser humano.
Eles conseguiam convencer há todos com aquela história de dedetizar, mas estava absurdo aquele tipo de coisa, eu tinha que fazer alguma coisa.
Foi quando ouvi um som de um caminhão de água se aproximando, uma ventania começou a surgir e percebi que era o mesmo caminhão que tinha escutado na primeira noite antes de imaginar qualquer doideira dessas.
Era todo fechado e blindado, de um azul escuro forte, completamente sem vidros.
Trazia na dianteira uma mangueira grande e grossa e um jato forte de água tentava atingir os dois mentirosos da prefeitura.
Ambos saíram correndo na direção do carro, mas na pressa de não deixá-los fugir corri para a porta do carro deles com um pedaço de madeira que peguei no chão da praça e acertei em cheio a cabeça da mulher.
Ela pega de surpresa caiu ao chão, o astronauta não sabia para onde ir, e então foi atingido pelo jato de água.
Água, apenas isso, e em questão de segundos tanto ele quanto a mulher que eu atingira eram apenas vapor no chão.
Percebi que aquilo fizera o asfalto ficar como novo em folha, queria entender como sabiam que água os destruía, e por que eles deixavam o asfalto belo depois de mortos, mas não tive tempo, ele seguiu viagem sem parar para me explicar nada.
Quem estaria dentro daquela máquina, tentando combater esse mal horrendo?
Será que isso funcionava com as pessoas atingidas pelo veneno?
Será que as matava ou as curava?
Pelo menos agora eu tinha uma fórmula, e tão simples que era eu conseguiria resolver logo aquele problema.
Que grande engano o meu.
Percebi o quanto tinha sido ingênua ao ter esse pensamento quando com um copo de água que arranjei em uma padaria próxima, tentei atingir um deles e vi que não teve efeito algum, além de quase levar um ataque, ao qual só foi impedido porque o dono da casa surgiu para atender. Foi ai que me dei conta que o caminhão jogava jatos d'água imensos, e provavelmente devia ter algo nessa água que eu ainda não sabia, então a solução era caçar este caminhão, pelo menos, por enquanto. Eu só não sabia como fazê-lo e o fato de estar me envolvendo nessa história toda provavelmente foi o meu segundo grande erro.

J.H.C

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