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quinta-feira, 24 de março de 2011

Sobrevivendo ao acaso - III

Não dormi com aquelas idéias de seres horrendo na minha cabeça, o modo como minha mãe me olhava era assustador e completamente sem lógica.
Ao amanhecer eu voltei a minha rua, tudo estava calmo e tranquilo, como se nada daquilo tivesse ocorrido, como se tudo não passasse de um sonho maluco, mas eu sabia que não era sonho porque não dormira a noite inteira.
Fiquei com medo de entrar em casa e percebi que ninguém sentia minha falta.
Observei minha cadela e vi que estava com falhas de pelos pelo corpo inteiro, chamei-a no portão e ela veio docemente, quando enfiei a Mao para lhe acariciar a cabeça sua boca tentou pegar minha mão e então recuei rapidamente, meu coração aos pulos.
Nada era mais como antes, eu não podia mais ficar ali, sabia disso mas a vontade de entender era forte.
Foi quando percebi um carro branco supostamente da prefeitura descendo a rua em direção a que passei a noite.
Segui-o sorrateiramente. Eles iriam dedetizar aquele local também.
Percebi o homem vestido de astronauta sair do carro com sua grande mangueira, tentei entender o que se passava, parecia algo normal, foi quando tocaram a campainha de uma casa que vi que a moça que estava junto do astronauta arreganhar a mandíbula para ele e de lá saiu uma voz grotescamente estranha.
-Coloque a quantidade certa dessa vez, alguns estão resistindo ao efeito e só sentem sonolência!
Quando a dona de casa apareceu na porta para atender, a mesma mulher olhou docemente e explicou que aquilo se tratava de uma dedetização.
Como ocorreu na minha rua no dia anterior, todos os vizinhos aceitaram, então era isso, eles estavam infectando a todos, e os que não eram atingidos dormiam como eu, afinal, eu estava com sono, mas dormir o dia inteiro não era o plano.
Então existiam outros... Eu só precisava encontrá-los e saber o que se passava, mas principalmente, precisava salvar aquelas pessoas, mas como fazê-lo sem que o astronauta e sua ajudante percebessem?
Me aproximei de uma senhora rechonchuda de longos cabelos brancos, dona Vanilda, muito amiga de minha falecida avó.
-Bom dia dona Vanilda!
Ela prontamente me abraçou com grande carinho.
-Oi minha filha, como está?
Sorria angelicalmente.
-Estou ótima, e a senhora?
Mas não tinha tempo para conversa.
-Dona Vanilda, a senhora não deve entrar em casa.
Ela me olhou curiosa.
-Me escute, não entre em casa, vamos sair daqui!
Ela se livrou de minhas mãos que estavam lhe agarrando o braço direito e me chamou de louca, começou a fazer um escândalo horrível, e percebi que se assim continuasse, logo chamaria a atenção da ajudante do astronauta.
Os olhos de dona Vanilda começaram a ficar vermelhos e sua boca começou a se contorcer, mas como? Ela não tinha respirado o ''dedetizador'' ainda.
Não esperei para entender, corri para longe dali, teria que descobrir como aquilo funcionava ao meu modo, custasse o quanto custasse.

J.H.C

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