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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Vida – Terra – Morte

São Paulo, 13 de dezembro de 2001.

E começa a chover na cidade. Ouço as lamúrias e vejo os olhos encharcados de pessoas que nunca vi durante toda a minha vida. As lágrimas se misturam a água, brotando rios salgados nas faces das pessoas. Morte por toda a parte.
Temos que olhar por onde pisamos, não por causa dos cacos de vidro e telha que estão espalhados por todo canto, mas para que não pisemos na mão, na perna ou na cabeça de um cadáver sepultado pela própria Gaia. Será que naquela época – na Grécia antiga – as pessoas morriam deste modo? Talvez não seja tão diferente de morrer afogado afinal...
Mas o fato é que a Terra parece estar sucumbindo, perecendo depois de uma jornada de bilhões de anos. E desta vez parece definitiva, porém não tenho certeza se estou falando da Terra ou da própria raça humana que, assim como em tempos remotos, colheu o que plantou – e daí veio o sedentarismo, as plantações – e que agora está colhendo novamente. Nós, humanos, estamos colhendo terra. Uma terra banhada de esgoto, de sangue, de dor. Os três fluidos mais vívidos que já vi.
O esgoto, lotado das coisas que desejamos nos livrar. O esgoto não seria tão diferente da culpa, se esse líquido pútrido que sai de nossas casas não fosse tão irmão – e tão amigo – da fumaça que entra em nossos pulmões. Mas, sendo parecido ou não, isso não importa, o importante é notarmos que, por mais que seja mais fácil fugir do problema – e do esgoto – este sempre voltará para nós, exceto se nos encontrarmos com a Resolução.
E o fluido acre sempre esteve em terra, principalmente em termos de guerra. Desde antes do século I até agora o sangue banha a história. Seja na América ou na Europa, cheiro acre jamais se viu igual.
Mas não nos esquecemos da mancha negra e fétida que infesta nossos corações. A Dor, sempre aguda, é amiga do cérebro e inimiga do coração. Ela despedaça a bomba cardíaca, mas avisa o cérebro em qualquer circunstância anormal. Gostaria de perguntar-lhe o seguinte: Que relação diplomática ela tem com o corpo? Neutra? Inimiga? Ou quem sabe, a mais amarga aliada que temos? Acho que nunca terei as respostas mas, de qualquer forma, é bom dividir as perguntas com você.
Gostaria que você estivesse perto de mim para que pudéssemos conversar sobre esses assuntos. Eu sempre digo e sempre direi que sinto a sua falta, pois esta verdade eu não faço questão de esconder. Posso ter até errado em mentir algumas vezes, mas creio que você não esteja zangado comigo ou que este fora o motivo de nossa separação, nossa divisão de destinos. Gostaria de voltar a vê-lo um dia. Quem sabe até com uma outra companhia a seu lado. Espero que não se importe que, neste dia, eu também esteja com a minha. Somos livres para ficarmos com quer quisermos, não é mesmo? Mas não se preocupe com isso agora, afinal não estou comprometida, nem apaixonada por alguém (por enquanto). (Risos)
Desejo que você seja Feliz, mesmo com todas aquelas vítimas que estão lá fora. Não se esqueça que a vida é um bem individual, mas também não deixe que esse conceito tome conta de sua mente, afinal, mesmo que a vida seja individual, não podemos virar as costas para os que nos pedem ajuda, certo?

Um beijo de sua amiga.
Gabrielle Oslo.

Lucas de Figueiredo

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