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sábado, 5 de fevereiro de 2011

É Desse Jeito que se Vive!

Geralmente quando a gente acorda, continuamos com sono. Temos preguiça de abrir os olhos e deixar os feixes luminosos chegarem às retinas ainda frágeis, acostumadas com a escuridão profunda. Eu sou uma exeção.
Sala branca, cama branca, pessoas brancas, objetos estranhos e esterilizados. Minha mãe está às minhas costas e agradeço a força que ela me deu, literalmente falando. Eu não queria chorar, eu queria sorrir, queria abraçar minha mãe e olhar para o rosto de papai, mas eles queriam que eu chorasse. Então soltei um choro fingido e quando vi que já era o suficiente para testarem minhas cordas vocais, parei. Eles me levaram para os braços de mamãe, mas ela estava zonza e mal conseguia me apanhar no colo e assim, uma mulher verruguenta me pegou e me colocou numa cama aquecida que, por incrível que pareça, me incomodava. Eu queria minha mãe e por isso chorava. Não é a toa que fiquei com fama de chorão... e logo eu, que tive que fingir o choro naquele quarto extremamente claro! Os que estavam ao meu lado estavam tão mirradinhos, tão nojentinhos... pareciam que não queriam ter saído. Como eles são burros! Prefiro ser chorão do que cagão!
E foi nesse instante que vi um cara com barba mal feita, rosto quadrado e barriga redonda me olhando com aquela cara de bobo que só um pai sabe fazer. Não aguentei e sorri. Queria mostrar a língua para ele no intuito de saber sua reação, mas fiquei com vergonha. E o homem sorria, chorava, falava com as outras pessoas do lado de fora. Era um bobão, mas eu gostava dele...
Depois de um tempo me levaram até mamãe. Ainda bem, estava com fome e dei uma mamada gostosa, mas parei quando vi que estava apertando demais o bico, fazendo com que minha mãe fizesse umas caretas esquisitas que significavam dor. Então, eles me deram um banho a seco – que foi muito estranho, pois pano úmido NÃO é água! – e me colocaram para dormir. E assim passei um bom tempo.
No dia seguinte, foi praticamente a mesma coisa: o corujão me olhava pelo vidro, mamãe me pegava – agora com mais jeito e força, me deixando confortável – e sorria pra mim. Eu adorava aquele leite quente de suas entranhas e a única coisa que eu não gostava muito era daquele maldito banho.
E assim o tempo – que não sei exatamente ao certo, pois os incompetentes não colocaram um relógio no berçário, que seria muito útil – passou e finalmente minha mamãe me levou para casa. Ela estava completamente recuperada, afinal eu saí por um buraco que já existia nela bem antes de eu nascer, alias eu – ou pelo menos metade de mim – passou pelo mesmo buraco para se encontrar comigo mesmo – a outra metade – na hora em que papai e mamãe estavam... digamos... BEM juntinhos.
E agora estou aqui, mamando e machucando um pouco mais o seio de minha mãe, afinal eu sei que não poderei mamar pelo resto da vida. Logo meus dentes nascerão e terei que me virar mais ainda. Contudo, não estou com medo, estou feliz e curioso com o que virá pela frente, mas nunca esquecendo de viver a cada segundo e aprender coisas novas. Não sei se no futuro irei olhar pelo vidro do berçário com cara de bobo como meu pai fez, mas isso não importa por enquanto. O que verdadeiramente importa neste instante é aproveitar o máximo esse leite que já está acabando. É desse jeito que se vive!

Lucas de Figueiredo

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