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terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Reflexão natalina: A vida passa. Então devemos correr?

Véspera de Natal. As ruas imundas e pichadas brilham, não só através dos pisca-piscas das casas como também com os faróis dos carros. Nosso homem está na Marginal Tietê, não é preciso maiores comentários.
Chega em casa e encontra sua mulher preparando a ceia às pressas, fez quase tudo sozinha. Seus dois filhos correm ao seu encontro, ele os abraça e vai correndo tomar banho. Ou melhor, ia. Seu relógio mostra que são dez horas e as crianças têm fome de presentes.
De modo que camisa social para o homem é roupa para toda ocasião. Além disso, o dia foi cheio, o mês mais ainda e até meia-noite ele quer dormir se os fogos deixarem.
Ceia devorada e os sinos prestes a serem tocados. Hora dos embrulhos. O menino sorri diferente. Não é todo dia que vê o pai, “este dia deve ser realmente especial”, pensa ele com apenas 6 anos. Ele ganha um autorama bem veloz. Sua irmã mais velha, aos 11, recebe o mais recente aparelho eletrônico lançado, nem sei dizer o nome: tem de tudo, talvez até canivete suíço, se me permite a piada sem graça, caro leitor.
Passado o momento, que fazer? O que se faz depois que os presentes já não são surpresa? Bom, nosso casal acredita que dormir é a melhor resposta.
É o que pretendem fazer, quando a garota, de repente, tenta se justificar. Pai, dessa vez eu queria te dar alguma coisa diferente. Não precisa, querida... Como eu não tinha dinheiro, pedi pra Deus te dar um pouquinho mais de tempo pra ficar com a gente, você mesmo falou que queria fazer isso de vez em quando. O senhor tem umas “olheira” feia, eu tô preocupada. Acho que não vai dar certo, porque “tempo é dinheiro” (é assim que se fala, né?) e dinheiro eu ainda não tenho, mas um dia vou trabalhar que nem o senhor pra poder te ajudar.
A consternação foi grande. Ele e sua mulher jamais permitiriam que, como eles, ela não tivesse tempo para a própria família. Todos abraçaram-se longamente (o garoto sem entender lhufas, apenas concluindo que “aquele dia era mesmo especial”).
De fato, sim. Ali ficou a compreensão de que não se pode, com luzinhas de Natal, ofuscar meses e meses de intensa correria repletos de nervosismo. O Natal deve ser tão somente a cereja no bolo de um calendário com grandes realizações do ano inteiro.
É isso que eu desejo a você: um ano novo tão próspero que o próximo Natal seja apenas mais um belo dia para estar com os amigos, com quem se ama. Esse é, sem dúvida, o melhor presente que todos, sejam jovens, adultos, ou idosos, podem receber. Porque não só o Natal, mas a vida se faz e se vive com pessoas.

Rafael Cardoso

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